Editorial
Cátia Jorge
Jornalista Editora Raio-X
É com grande orgulho que, nesta edição da MeetEndo, apresentamos a Associação de Diabetes mais antiga do mundo: a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP). Em vésperas da celebração do seu centenário (em 2026) viemos conhecer esta casa e esta equipa que veste a camisola na luta contra a diabetes e que garante o acesso dos doentes aos tratamentos mais diferenciados.
Se, no seu início, a sobrevivência dos doentes através da disponibilização de insulina aos mais carenciados era a principal missão, atualmente, a APDP está focada na prevenção, na minimização do impacto das comorbilidades da diabetes, sem perder a esperança numa eventual cura.
Nesta visita à APDP conversámos com o Dr. José Manuel Boavida, presidente da direção da Associação. Na companhia do Dr. Luís Gardete Correia, ficámos a conhecer o museu e a história do Prof. Ernesto Roma. Falámos também com o Prof. João Filipe Raposo, diretor clínico da APDP, que nos explicou o modelo de funcionamento desta casa que é um “farol de qualidade”, onde trabalha uma equipa constituída por 150 colaboradores das mais variadas áreas.
Visitámos também os cuidados diferenciados, passando pelo Departamento de Sistemas de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina, pelo Departamento de Crianças e Jovens, pelo Departamento de Saúde Mental, fomos conhecer a equipa de enfermagem, a Consulta de Nutrição, a Consulta de Oftalmologia, a Consulta de Saúde Reprodutiva, a Consulta de Cardiologia, assim como o bloco operatório, a farmácia, os Serviços Sociais, o Gabinete do Cidadão. Tivemos ainda oportunidade de conhecer as áreas da formação, da educação e investigação e a Clínica Qorpo. Foram necessários dois dias de reportagem para que nada ficasse por contar.
Na rúbrica Fora do Consultório, apresentamos-lhe a Dr.ª Diana Duarte, endocrinologista na ULS de Braga, que concilia a sua atividade clínica com a paixão pela escrita. Publicou o seu primeiro livro quando tinha 19 anos e acredita que há entre a Medicina e a Literatura muitas semelhanças.
Esperamos que esta seja uma boa leitura pós-férias!
Endocrinologia somos nós
Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal: uma referência centenária no tratamento e prevenção da diabetes
Dr. José Manuel Boavida
De forma diferente do que tem sido habitual, dedicamos esta quinta edição da MeetEndo não a um serviço de Endocrinologia, mas àquela que é a associação de diabetes mais antiga do mundo: a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP). Numa altura em que está a menos de um ano de completar um século de existência, fomos conhecer a história, a missão e a equipa desta instituição que recebe, diariamente, entre 300 a 400 pessoas com diabetes.
"A missão da APDP, em primeiro lugar, é a luta contra a diabetes e o apoio às pessoas com esta doença”, começa por referir o Dr. José Manuel Boavida, presidente da direção da instituição. De acordo com o médico endocrinologista, esta missão foi assumindo diferentes contornos ao longo da história da APDP: “começámos pela sobrevivência das pessoas e queremos caminhar até à cura da diabetes”.
Se, numa primeira fase, a sobrevivência dos doentes era o foco, através do fornecimento de insulina a quem não tinha capacidade para a adquirir, “depressa se entendeu que isto não bastava, era necessária a educação de como a utilizar e também sobre alimentação e cuidados de higiene”. Com o prolongamento da vida das pessoas com diabetes, surge a fase do acompanhamento das complicações da doença, na altura graves, e onde “houve um esforço enorme para conseguir ir acompanhando, por exemplo, as pessoas invisuais, amputadas ou em insuficiência renal”. Apenas mais tarde, percebendo que o controlo da diabetes era fundamental, entra uma nova missão: “deixámos de apenas tratar as complicações para começarmos também a preveni-las”. Para o Dr. José Manuel Boavida, atualmente, estão já numa fase “em que começamos a augurar um outro futuro, que é o de minorar a própria diabetes”, passando isto pela prevenção e por “encontrar formas para que a cura da doença possa ser uma realidade”.
De acordo com o presidente, um dos papéis mais relevantes da associação é também o de ser “porta-voz” das pessoas com diabetes - algo que têm procurado cumprir ao longo de todos estes anos. “Estamos sempre muito atentos àquilo que são as políticas públicas neste âmbito”, afirma. Sublinha ainda que a APDP continuará a assumir esse papel ativo junto dos decisores políticos: “sempre que há um novo governo, vamos falar com os novos deputados. É essencial mostrar-lhes a evolução da luta contra a doença e os progressos alcançados nos cuidados prestados às pessoas com diabetes.”
Dr. Luís Gardete Correia
História da APDP
Remontando ao nascimento da associação, o Dr. Luís Gardete Correia recebe-nos no museu da APDP, espaço que existe, em grande parte, graças ao legado do seu fundador – Ernesto Roma – que, ao guardar diversos materiais, tornou possível a criação deste museu onde podemos conhecer não só a história da APDP e do seu fundador, mas também da diabetes em Portugal.
O médico endocrinologista começa por traçar um breve percurso de vida de Ernesto Roma - um dos pioneiros da Endocrinologia clínica em Portugal. Ernesto Roma, nascido em 1887, licenciou-se em Medicina pela Escola Médica de Lisboa e, em 1921, rumou aos Estados Unidos da América onde, através de Richard Cabot, teve contacto com aquele que é considerado o primeiro serviço social na saúde - algo que o “tocou profundamente e influenciou também, quando veio para Portugal, a criação da associação”. Este período no estrangeiro coincidiu com o ter também presenciado a descoberta da insulina – tendo então decidido trazer esta inovação para Portugal. Assim, a 13 de maio de 1926, é criada a APDP – na altura, Associação Protetora dos Diabéticos Pobres – “as pessoas que vinham para a associação, que funcionava na baixa de Lisboa, tinham de ser comprovadamente pobres”.
Ao longo destes quase 100 anos de existência, a APDP “teve alguns períodos bons e períodos maus nos quais esteve quase a fechar”, recorda o médico endocrinologista que contou ainda a curiosidade da mudança de nome. “Sempre foi Associação Protetora, dado o seu sentido de proteção, principalmente no passado onde havia uma grande discriminação da pessoa que tinha diabetes”, conta o Dr. Luís Gardete Correia, acrescentando que “era comum que esses doentes fossem excluídos do mercado de trabalho por serem considerados um risco e até desaconselhados a ter filhos. A associação assumia, assim, um papel quase paternal, de defesa e inclusão dos mais vulneráveis”. No entanto, a mudança de nome ocorre em 1973, fase na qual a instituição enfrentou uma crise e, o Ministro da Saúde da altura, Baltazar Rebelo de Sousa, interveio diretamente: “não só financiou a associação no sentido de restabelecer a saúde económica e financeira, como também fez uma condição: era tirar os ‘pobres’ e inserir ‘Portugal’”, relembra o médico endocrinologista.
Prof. Doutor João Filipe Raposo
Um “farol da qualidade”
Nestes quase 100 anos de existência, a APDP tem procurado “mostrar aquele que deve ser o padrão de cuidados para as pessoas com diabetes”, refere o Prof. Doutor João Filipe Raposo, endocrinologista e diretor clínico da associação. O seu modelo de funcionamento baseia-se no conceito de unidade prática integrada, ou seja, “tudo aquilo que uma pessoa com diabetes necessita em termos do apoio de saúde está concentrado num único local com os profissionais e as competências necessárias para que possa fazer a gestão da sua doença”.
Com uma equipa multidisciplinar e especializada – são 150 os colaboradores da instituição – essa centralização de competências permite que a informação seja partilhada entre os profissionais, com as decisões clínicas a serem acompanhadas de forma coordenada e a própria pessoa com diabetes a estar envolvida no processo de decisão. “As pessoas referem a grande diferença quando vêm para a APDP: sentem que estão bem acompanhadas por uma equipa dedicada e com tudo o que necessitam num único local”, sublinha o Prof. Doutor João Filipe Raposo.
Para o diretor clínico, a principal mais-valia da APDP é o seu papel como “um farol da qualidade”, não só a nível nacional, mas também internacional. Este padrão de qualidade é sustentado por uma estrutura que integra consultas médicas, formação de profissionais de saúde, projetos de prevenção, trabalho comunitário e investigação. “São as mesmas pessoas que estão nestas equipas todas”, refere o Prof. Doutor João Filipe Raposo, destacando que a integração entre as áreas clínicas e científicas fortalece o trabalho: “o conhecimento é potenciado exatamente pela experiência que vem de todas estas áreas”.
Apesar de ser a associação de diabetes mais antiga do mundo, o que mais orgulha quem aqui trabalha não é apenas a história, mas a continuidade do impacto. “A APDP foi histórica porque há 100 anos marcou a diferença, mas é histórica porque continuamos a marcá-la”. E, como diz com convicção, “queremos continuar a marcar a diferença. É essa a nossa responsabilidade. É por isso que cá estamos”, conclui o médico endocrinologista.
Da resposta à doença à sua prevenção
Para o presidente da APDP, o futuro da instituição passa, inevitavelmente, por reforçar o foco na prevenção. “O que hoje nos faz sentido é que aquilo que sempre se falou de dar importância à prevenção, finalmente assuma o seu lugar.” Até aqui, o esforço tem estado centrado em tratar quem já vive com a doença, mas é essencial mudar o paradigma e apostar na prevenção da diabetes como prioridade.
Nesse sentido, a APDP já propôs ao Ministério da Saúde a criação de um Instituto de Prevenção da Diabetes, que teria “um cabimento enorme na colaboração com as autarquias, escolas e com toda a sociedade, porque é aí que poderemos evitar o aparecimento da obesidade”, trabalhando em articulação, numa visão ampla que vai desde a promoção de uma alimentação saudável ao planeamento urbano - “com cidades desenhadas para que as pessoas possam ter uma vida mais ativa”, refere o presidente sobre esta proposta.
“Esta visão da prevenção vem abrir um horizonte muito grande para a APDP que, quando conseguir controlar a doença, terá o seu futuro na prevenção”, acrescenta o médico endocrinologista. Até lá, o objetivo mantem-se claro: “lutar por tratar os doentes, mas vamos começar a prevenir muita gente de vir a ter diabetes conseguindo que esta doença possa ter um impacto muito menor na sociedade e que não seja considerada como um risco para a saúde das populações a nível global”.
Fomos então conhecer as várias valências e a equipa multidisciplinar da APDP que, diariamente, através das diferentes especialidades e competências, trabalha de forma integrada no acompanhamento às pessoas com diabetes.
Enf.ª Márcia Leitão e
Dr.ª Ana Filipa Lopes
Cuidados especializados
Departamento de Sistemas de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (crianças e adultos)
Desde 2019, a Dr.ª Ana Filipa Lopes é a médica coordenadora do departamento de bombas de insulina para adultos na APDP. A médica endocrinologista refere que, quando o departamento surgiu, funcionava como uma unidade conjunta com a Pediatria, mas que há cerca de três anos se deu uma separação, “quer por uma questão de espaço físico, quer pelo próprio crescimento desta terapêutica”.
É um departamento multidisciplinar, composto por cinco médicos, quatro enfermeiras e duas nutricionistas, mas na perspetiva da especialista - devido ao crescimento da procura e à maior disponibilidade de bombas no mercado - “vai crescer muito nos próximos anos”. Para a Enf.ª Márcia Leitão, enfermeira coordenadora deste departamento, esta realidade de a equipa ser constituída por profissionais de diversas áreas, tem a vantagem da complementaridade, mas “o grande ganho é para os doentes que têm um ensino muito completo nas várias áreas maximizando o tratamento”.
Enf.ª Marina Dingle e
Dr.ª Sofia Castro
Na idade pediátrica, são seguidas na APDP mais de 200 crianças com bombas de insulina, número que, para a Enf.ª Marina Dingle “é muito bom”. “É uma mais-valia não só no tratamento e na qualidade de vida das crianças, como também para os pais, pois a gestão da doença é mais fácil”, refere a enfermeira coordenadora do departamento de crianças e jovens e bombas de insulina da pediatria.
Quanto ao funcionamento desta valência, a Dr.ª Sofia Castro, pediatra e responsável pela coordenação médica do departamento, destaca a existência de um “programa de educação terapêutica em grupo, com um componente online, que permite obviar questões de deslocação, e um componente presencial, que permite o encontro entre crianças/adolescentes/pais e a partilha de uma experiência muito enriquecedora, tanto a nível de aquisição de conhecimentos, como de apoio entre pares.”
Dr.ª Raquel Coelho
Departamento de Crianças e Jovens
A Dr.ª Raquel Coelho é pediatra e está há 10 anos na APDP. Atualmente, coordena o departamento de crianças e jovens, estrutura que acompanha cerca de 500 crianças e jovens com diabetes tipo 1. O departamento funciona com uma equipa multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e, sempre que necessário, assistentes sociais. Para a sua coordenadora, esta multidisciplinariedade “é fundamental para o sucesso da nossa intervenção, existindo também a integração de outros cuidadores, como a escola”.
A pediatra destaca que estamos a assistir a uma mudança no paradigma do diagnóstico da diabetes tipo 1 e que isso se deve, também, ao rastreio precoce da doença. Precisamente neste âmbito, a APDP é a entidade responsável, a nível nacional, pela implementação de um projeto europeu – EDENT1FI (European action for the Diagnosis of Early Non-clinical Type 1 diabetes For disease Interception) – que pretende promover o rastreio à diabetes tipo 1 em crianças e adolescentes. “A APDP iniciou este projeto em setembro de 2024 e já fizemos mais de oito mil rastreios. É uma iniciativa inovadora, uma mudança que já faz parte do presente, mas que também vai desempenhar um papel importante no futuro”, afirma a Dr.ª Raquel Coelho.
Dr.ª Ana Lúcia Covinhas
Departamento de Saúde Mental
O departamento de saúde mental da APDP inclui consultas de Psicologia e de Psiquiatria, como nos esclarece a Dr.ª Ana Lúcia Covinhas (psicóloga clínica e da saúde) e “tem como função principal, intervir na gestão da doença, desde o acompanhamento do processo de aceitação até à prevenção de complicações e melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com diabetes”. Aqui a atuação é abrangente - estendendo-se a todas as idades e tipos de diabetes - e inclui acompanhamento clínico, participação em atividades associativas (como grupos de utilizadores de bomba de insulina e campos de férias para adolescentes), formação de profissionais de saúde e contributos para investigações e projetos.
Por ser uma “doença crónica exigente, invasiva e que não dá descanso, podendo gerar estigma, desgaste emocional, ansiedade e afetar as dinâmicas familiares, sociais e profissionais”, a saúde mental torna-se essencial no acompanhamento destes doentes, permitindo “a identificação de sofrimento, a promoção de estratégias de aceitação e a melhoria da gestão da doença”, refere a Dr.ª Ana Lúcia Covinhas.
Enf.ª Isabel Correia
Equipa de Enfermagem
A Enf.ª Isabel Correia assumiu, no final de 2023, a coordenação da equipa de Enfermagem da instituição. Lidera atualmente um grupo de 32 enfermeiros, distribuídos pelos vários departamentos e desempenhando funções fundamentais e diversificadas no acompanhamento das pessoas com diabetes, tanto crianças como adultos. Sobre esta equipa, a enfermeira não tem dúvidas: “é de excelência. São pessoas resilientes, com uma enorme capacidade de cuidar, colocando sempre a pessoa com diabetes no centro das suas ações. Além disso, são proativas, com vontade de fazer mais e melhor, abraçam novos projetos e desafios com grande disponibilidade e dedicação.”
Na APDP, o papel da Enfermagem “é relevante em todas as áreas”, como refere a coordenadora da equipa. Assumem funções na consulta de diabetes, “onde têm um papel importante a nível da educação”, nos departamentos de bombas de insulina -“estão na vanguarda das novas tecnologias e também fazem com que as pessoas ganhem competências”-, no bloco operatório - “não só ajudando na parte cirúrgica, como também nas dúvidas que têm com a sua diabetes em ambiente de bloco”-, na investigação, com “vários enfermeiros a fazerem aqui um trabalho não apenas internamente, mas fora de portas, na educação de pessoas com diabetes dentro da própria comunidade” e no departamento do pé diabético.
Enf. Rui Oliveira
Consulta de Pé Diabético
Quanto ao departamento do pé diabético da APDP, integra oito enfermeiros dedicados à prevenção, tratamento e resposta em situações de urgência. Esta é a consulta de pé diabético mais antiga do mundo, criada em 1938. Segundo o Enf. Rui Oliveira, enfermeiro coordenador deste departamento, a equipa – que é constituída, além dos enfermeiros, por duas ortoprotésicas e duas médicas – realiza entre 17 a 20 mil consultas anuais a cerca de cinco mil utentes. A par disto, desde 2007, conscientes das dificuldades que surgem, quer pelo avançar da idade, quer por outras complicações, “para que ninguém perdesse o acesso aos cuidados, construímos um projeto de serviço domiciliário”, explica o enfermeiro que, duas manhãs por semana, presta este serviço.
Dr.ª Maria João Afonso
Consulta de Nutrição
Com a consulta de Nutrição integrada na equipa multidisciplinar da consulta de diabetes do adulto e da criança, a especialista destaca a importância da articulação entre especialidades: “sendo a alimentação tão importante no controle da diabetes e na promoção da saúde, trabalhamos em conjunto com os outros profissionais de saúde estabelecendo objetivos comuns para cada pessoa com diabetes, porque cada um tem as suas características, a sua situação clínica, os seus comportamentos e os seus níveis de adesão ao tratamento”.
Dr. Vítor Genro
Consulta de Oftalmologia
O Dr. Vítor Genro é médico oftalmologista e coordenador do departamento desta especialidade na APDP, onde trabalha há mais de 30 anos. Fundado em 1986, atualmente, o departamento conta com 14 oftalmologistas e oito técnicos de Ortóptica. Em 2024, foram realizadas cerca de 11.700 consultas e acompanhadas entre 6.000 a 7.000 pessoas com diabetes.
Aqui a principal preocupação é o diagnóstico precoce da retinopatia diabética pois, de acordo com o especialista, “é uma patologia na qual temos de estar atentos atendendo ao facto de os doentes não terem queixas”, motivo pelo qual defende ser tão importante o seu rastreio. Além da realização de retinografias, a associação colabora com o Serviço Nacional de Saúde no programa nacional de rastreio da retinopatia diabética e “também colaboramos na leitura de retinografias e exames feitos por outras entidades e que têm dificuldade em ter técnicos para ler os exames”, destaca o Dr. Vítor Genro.
Dr.ª Lisa Vicente
Consulta de Saúde Reprodutiva
Criada em 2003, a consulta de saúde reprodutiva é outra das valências da APDP. Aqui, a Dr.ª Lisa Vicente, ginecologista/obstetra e responsável por esta consulta, destaca duas áreas prioritárias: a pré-conceção e a contraceção adaptadas às necessidades específicas das pessoas com diabetes.
Para a especialista, é fundamental a APDP incorporar esta valência uma vez que “a diabetes é o paradigma da importância de planear a gravidez porque quando há um bom controlo glicémico, as complicações diminuem bastante”. O acompanhamento é sempre feito em equipa, com apoio próximo das enfermeiras: “vamos apoiando e motivando as mulheres a melhorar o controlo glicémico”, destaca a especialista.
Dr. Pedro Matos
Consulta de Cardiologia
O Dr. Pedro Matos coordena, desde 1996, o departamento de Cardiologia na APDP. No entanto, o cardiologista destaca que este departamento já existia antes da sua entrada, tendo sido inicialmente coordenado pelo Dr. Lino da Silva, “uma das primeiras pessoas a pensar cardiologicamente dentro da diabetes”. Desde então, o departamento tem evoluído, incorporando novos exames e alinhando-se com as recomendações internacionais.
Durante as consultas, o foco está na abordagem global da pessoa: “quem temos à nossa frente é um todo”. Além de controlar a diabetes, é fundamental gerir os fatores de risco cardiovascular já que “a causa principal de morte na diabetes é a doença cardiovascular”. Contudo, muitos utentes ainda não têm plena noção desse risco. Para o especialista, isso sublinha a importância da educação terapêutica, uma prática central na APDP: “esta casa tem lutado desde a sua fundação para transmitir aos doentes a necessidade de modificarem comportamentos”. O médico cardiologista sublinha a singularidade da APDP: “temos uma perspetiva integrada da abordagem do doente, literalmente da cabeça aos pés. É muito difícil encontrar, mesmo no mundo inteiro, uma estrutura onde o doente possa tratar quase tudo num só sítio”.
Dr.ª Susana Bettencourt e
Enf. Tiago Ribeiro
Serviços complementares
Bloco operatório
O bloco operatório da APDP é um espaço exclusivamente dedicado à cirurgia ambulatória oftalmológica cuja coordenação médica é da responsabilidade da Dr.ª Susana Bettencourt. “Cerca de 7% dos nossos doentes têm patologia grave e, portanto, temos um bloco que está especialmente dedicado à sua resolução, com instrumentos de ponta e uma equipa treinada para resolver estas situações”. Entre os procedimentos mais realizados estão as cirurgias de catarata, as injeções intravítreas - que, segundo a médica, “hoje em dia são muito prevalentes nos nossos doentes” -, e também a cirurgia vítreo-retiniana, através da vitrectomia.
O Enf. Tiago Ribeiro, enfermeiro coordenador do bloco operatório, sublinha que uma das grandes mais-valias da APDP é oferecer um leque abrangente de cuidados específicos para as pessoas com diabetes, incluindo a resposta às complicações oftalmológicas, que são muito prevalentes neste grupo. “O facto de termos esta valência de cirurgia ambulatória especializada permite-nos atingir o nosso principal objetivo: melhorar a qualidade de vida das pessoas com diabetes. Ainda que a prevenção seja sempre uma prioridade, a possibilidade de intervenção cirúrgica atempada é decisiva para o prognóstico e recuperação dos doentes”, conclui.
Dr.ª Filipa Cabral
Farmácia
A Dr.ª Filipa Cabral é a diretora técnica da farmácia da APDP, uma farmácia social privativa que atende exclusivamente os sócios da associação. Em funcionamento há 15 anos, para a farmacêutica, esta valência “foi um complemento importante a todas as outras que são disponibilizadas pela APDP”.
Apesar de não ter montra nem porta para a rua, funciona como qualquer farmácia comunitária, com a particularidade de estar integrada física e funcionalmente com os restantes serviços. Esta proximidade permite uma articulação direta com médicos e enfermeiros, tornando mais eficaz o acompanhamento e a adesão ao tratamento que é reforçada no momento da dispensa dos medicamentos: “há aqui mais um input, um reforço adicional da importância de tomar a medicação, de saber se percebeu exatamente o que é que foi prescrito, para que é que serve, como é que vai tomar”, explica a Dr.ª Filipa Cabral.
Dr.ª Marisa Araújo
Serviço Social
O serviço social da APDP nasceu em 2019 resultado da conclusão de um diagnóstico interno - realizado no âmbito de um estágio - que identificou a necessidade de apoiar pessoas com diabetes em situação de vulnerabilidade.
Atualmente coordenado pela Dr.ª Marisa Araújo, esta valência realiza consultas presenciais ou por telefone, abrangendo todas as faixas etárias. Quanto às principais situações que identificam, a assistente social refere que “dentro da diabetes, existe um universo de realidades: violência doméstica, negligência parental e de saúde - tanto em crianças como em adultos e idosos - ausência de suporte familiar, dificuldades económicas no acesso à medicação e à alimentação”. Perante as situações detetadas, o papel do serviço social é sobretudo o de orientação, apoio e articulação com os recursos da comunidade, informando os utentes sobre os seus direitos e encaminhando-os para entidades externas, como associações, juntas de freguesia, câmaras municipais e outras estruturas de apoio.
Dr.ª Isa Almeida
Gabinete do cidadão
Foi em 2020 que nasceu o Gabinete do Cidadão da APDP. Coordenado pela Dr.ª Isa Almeida, este gabinete articula diretamente com a Direção da APDP e funciona como um elo de ligação entre os utentes, os cuidadores e a instituição, assegurando o esclarecimento de direitos, deveres e legislação, bem como a gestão de elogios, agradecimentos, reclamações e sugestões “para melhoria dos procedimentos internos”, garantindo a qualidade da prestação de cuidados de saúde.
Também com a missão de informar as pessoas com diabetes sobre os seus direitos e deveres, bem como de lutar pela melhoria da sua qualidade de vida, em articulação com o departamento de comunicação, “tentamos sempre que os utentes saibam das notícias mais atualizadas às suas necessidades”, através de canais como newsletters, redes sociais, e-mail e site institucional, como explica a coordenadora.
Enf.ª Ana Cristina Paiva
Formação
A formação é, desde sempre, um pilar fundamental para a APDP, contribuindo para “empoderar a pessoa e capacitá-la para a gestão da doença no seu dia a dia”, explica a Enf.ª Ana Cristina Paiva, há 22 anos na instituição e atual coordenadora do departamento de formação.
Este departamento é responsável pela gestão e coordenação de todos os cursos promovidos pela APDP, dirigidos tanto a profissionais de saúde como a pessoas com diabetes, bem como a escolas e outras instituições. Para além da oferta formativa habitual, surgem pedidos externos específicos aos quais cabe também a este departamento dar uma resposta adequada. Relativamente ao futuro nesta área, a Enf.ª Ana Cristina Paiva destaca o objetivo de oferecerem estágios que permitem aos formandos experienciar, na prática, o ambiente clínico da APDP, acompanhando consultas e esclarecendo dúvidas diretamente com os profissionais, o que acrescenta grande valor formativo. “É esta riqueza de experiência que podemos oferecer e é isto que queremos no futuro: que, cada vez mais, as pessoas nos vejam como o centro de referência que somos. Aqui são sempre bem-vindos, porque gostamos de partilhar”, conclui.
Dr. Rogério Ribeiro
Departamento de Investigação
Há mais de uma década na APDP, o Dr. Rogério Ribeiro - atualmente o investigador-coordenador no departamento de investigação - começa por destacar que a investigação sempre fez parte da atividade da APDP e que “essa é a missão que o departamento mantem”.
De acordo com o coordenador, por estar “tão próxima das pessoas com diabetes”, a APDP tem uma visão privilegiada das suas necessidades estando fortemente envolvida na defesa dos seus direitos e na melhoria das condições que lhes são oferecidas. Essa proximidade reflete-se nas linhas de investigação desenvolvidas, “que vão desde o estudo da fisiologia e dos mecanismos da doença - tanto da diabetes tipo 1 como tipo 2 - até à realização de ensaios clínicos para testar novas terapêuticas e fármacos. A investigação estende-se ainda à organização dos próprios serviços de saúde: como são estruturados, como são realizados os rastreios e como é prestado o acompanhamento às pessoas com diabetes”.
Enf.ª Beatriz Cardoso
Departamento de Estudos, Projetos e Ensaios Clínicos
Cabe à Enf.ª Beatriz Cardoso a coordenação de enfermagem do departamento de ensaios clínicos da APDP. A equipa é composta por três enfermeiros, um médico-coordenador, uma farmacêutica e uma técnica administrativa, funcionando em articulação com outros setores da associação.
Segundo a coordenadora, o departamento tem um papel essencial na promoção da investigação clínica: “este departamento é importante no sentido de fomentar a investigação e sermos um centro de referência, tanto a nível nacional, como internacional.” A colaboração é feita sobretudo com a indústria farmacêutica, no âmbito de ensaios clínicos internacionais com medicamentos experimentais, promovendo “a produção de conhecimento e a inovação no avanço de novas formas terapêuticas”.
Atualmente, a APDP tem oito ensaios clínicos em curso, abrangendo áreas como obesidade, doença cardiovascular, dislipidemia, retinopatia diabética e doença renal.
Dr.ª Carolina Neves
Clínica Qorpo
A Dr.ª Carolina Neves, médica endocrinologista, integra a equipa da APDP desde 2017, dedicando-se ao tratamento da diabetes tipo 1 e 2, bem como às consultas de bombas de insulina e de adolescentes. Em 2022, foi desafiada a liderar um novo projeto: “a criação de uma clínica dedicada à gestão do peso e tratamento da obesidade”, nascendo assim a clínica Qorpo.
O principal objetivo desta unidade é dar resposta às necessidades das pessoas com obesidade e excesso de peso, focando-se na prevenção de doenças associadas, como a diabetes tipo 2: “montámos a equipa con-siderando todas as valências que achamos serem necessárias para este objetivo, além da Endocrinologia”. Esta questão da abordagem integrada é, para a Dr.ª Carolina Neves algo bastante diferenciador, permitindo “que a pessoa que aqui vem, no mesmo dia, tenha acesso a diferentes consultas”.
APDP: a jornada e a missão na luta contra a diabetes
Por trás do cuidado: a equipa multidisciplinar da APDP
Fora do consultório
Dr.ª Diana Duarte: da Endocrinologia à Literatura
Dr.ª Diana Duarte
A Dr.ª Diana Duarte, endocrinologista na ULS Braga, concilia a prática clínica com uma paixão antiga pela escrita, tendo publicado o seu primeiro livro aos 19 anos. Embora hoje considere ser mais desafiante articular a Medicina com a Literatura, defende que ambas as áreas têm muito em comum, nomeadamente na compreensão da condição humana.
Começando pelo seu percurso profissional, a Dr.ª Diana Duarte, que fez a sua formação académica na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, refere que a escolha da especialidade de Endocrinologia não foi imediata, mas sim um fascínio despertado pelo seu professor Manuel Lemos. “Debati-me, no final do curso, sobre se queria mesmo a Endocrinologia por esse fascínio ou se por ter uma doença da área, mas acabei por me render à evidência de achar que faria mais sentido, até para os doentes que viesse a acompanhar, ter essa capacidade de passar para o outro lado da secretária e saber o que muitas vezes as pessoas com diabetes tipo 1 experienciam no dia-a-dia. Portanto, pareceu-me uma escolha natural e da qual não me arrependo”, partilha a médica endocrinologista.
Terminado o internato em 2022, iniciou funções no ano seguinte na ULS Braga, “onde tenho a sorte de ter uma equipa fantástica e de poder fazer exatamente as áreas às quais mais me queria dedicar, nomeadamente a diabetes tipo 1, as bombas de insulina e as tecnologias na diabetes”.
A paixão antiga pela escrita
Antes de escolher a Medicina, já a Literatura fazia parte da vida da Dr.ª Diana Duarte - leitora ávida desde cedo, começou por escrever crónicas para os jornais escolares e, mais tarde, “no ensino secundário, percebi que tinha interesse por criar histórias e personagens”.
Incitada por bons professores de Português, que a incentivaram “a seguir essa paixão”, começou a escrever com maior regularidade. Foi precisamente nessa fase que o seu primeiro conto foi publicado, após vencer um concurso literário promovido pelo Ministério da Educação: “foi com alguma surpresa que o meu conto foi selecionado. Foi a primeira vez que tive feedback real daquilo que escrevia”, recorda.
Mais tarde, durante um ano de pausa nos estudos, que coincidiu com o seu diagnóstico de diabetes tipo 1, enviou o manuscrito de um livro da sua autoria para várias editoras “e foi com felicidade que o vi publicado. Na altura, tinha 19 anos”.
Atualmente, conciliar a Medicina com a escrita é mais desafiante: “a Medicina tem uma racionalidade que esgota a criatividade. Hoje em dia, o meu momento literário é contar histórias para adormecer o meu filho”, confessa com um sorriso. Ainda assim, a especialista não afasta a hipótese de regressar à escrita de forma mais consistente: “provavelmente, a curto ou médio prazo, voltarei a dedicar-me a essa vertente”.
A importância da leitura
A leitura é uma prática que considera essencial, inclusivamente na prática da Medicina, “mesmo na saúde, a forma como explicamos a uma pessoa uma patologia - que para nós pode parecer simples - em palavras curtas e facilmente percetíveis, torna-se mais fácil quando temos um bom background como leitores ou escritores, passando mais facilmente a mensagem. Acho que esse pode ser, de facto, um ponto muito positivo do hábito da leitura na saúde”.
Entre os seus autores de eleição, destaca José Saramago - “conquistou-me desde nova com As Intermitências da Morte” - e Haruki Murakami. No entanto, é o Nobel português a sua grande referência: “a forma como consegue criar universos distópicos e que, muitas vezes, vimos refletidos na nossa realidade, como foi agora no ‘apagão’, é algo que eu não reconheço em mais nenhum autor”.
O cruzamento da Medicina com a arte
Apesar de ainda não ter transformado casos clínicos em livros, a Dr.ª Diana Duarte reconhece na prática médica uma fonte inesgotável de inspiração literária. Mais do que histórias concretas, é o contacto diário com pessoas e emoções que acredita enriquecerem a sua visão enquanto escritora : “a Medicina é muito rica para o lado literário - vemos diariamente inúmeras pessoas, situações e reações e isso dá-nos um background único. Lidamos com pessoas em todas as situações, nos melhores e piores momentos, e isso traz-nos um entendimento da mente e do comportamento humano que considero singular”.
De acordo com a especialista, “a Medicina cruza-se, muitas vezes com a arte”. Sendo uma “profissão tão desgastante”, a médica endocrinologista considera que “se não houver algo que possamos fazer para equilibrar, ela suga tudo à volta”. Por isso, refere não serem raros os colegas com hobbies artísticos precisamente com esse objetivo: “manter a sanidade e preservar a identidade pessoal para além do papel profissional”.
Precisamente para quem está na Medicina, mas sonha com outros caminhos criativos como hobby, a médica endocrinologista deixa um conselho simples: “que não desista”. “Acho que a geração mais nova cada vez mais adota e assume esse hobby de uma forma paralela e com igual importância. A geração que vemos agora como alunos de Medicina tem orgulho em expor a sua outra vertente e em desenvolvê-la com a mesma paixão com que desenvolve a Medicina e isso é algo que devemos festejar e incentivar. Acho que isso deve ser, de facto, muito aplaudido e reforçado”.
Assista ao vídeo da entrevista
A Menarini esteve aqui
Menarini apoia plataforma de informação sobre a diabetes
Empenhada em contribuir para uma maior literacia em saúde, a Menarini apoia a página “Diabetes tem muito que se lhe diga” (www.adiabetes.pt), uma iniciativa que procura desmistificar a diabetes e facilitar o acesso a informação clara, rigorosa e acessível.
Este projeto pretende ser uma referência na divulgação de conteúdos que contribuam para uma melhor compreensão da doença, esclarecendo sintomas, fatores de risco e oferecendo recomendações sobre como viver com a diabetes.
Com este apoio, a Menarini reafirma o seu compromisso com a educação em saúde e com a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com diabetes.
Produção
Rua Herminia Silva nº8 Loja A
2620-535 Ramada, Portugal
geral@raiox.pt
www.raiox.pt
Equipa
REDAÇÃO:
Andreia Pinto
Cátia Jorge
Rita Rodrigues
FOTOGRAFIA E VIDEO:
João Ferrão
Tiago Gonçalves
DESIGN:
Alexandra Carreira
Diogo Silva
APOIO