Editorial

Cátia Jorge
Jornalista Editora Raio-X
Nesta edição da MeetEndo vamos conhecer o Serviço de Endocrinologia da ULS Santa Maria, em Lisboa, que nasceu da fusão entre a Clínica de Endocrinologia e a Clínica de Diabetes, em 2003, sob a liderança do Prof. Doutor Galvão Teles e que, desde agosto do ano passado, é dirigido pela Dr.ª Ema Lacerda Nobre.
Constituída por 26 elementos, a equipa “tem um grande espírito de união”. É um grupo jovem, alegre, dinâmico e com grande disponibilidade que valoriza o bem-estar e a felicidade no trabalho, fomentando atividades de convívio, como encontros, caminhadas e outras iniciativas que promovam um estilo de vida saudável. Clinicamente, é também uma equipa de excelência, que muito orgulha a Dr.ª Ema Lacerda Nobre.
Para responder aos desafios crescentes da Endocrinologia, a diferenciação tem sido a aposta deste Serviço que conta com consultas nas áreas da diabetes, na neuroendocrinologia, da gravidez, da abordagem de pessoas transgénero, da osteoporose fraturária, do transplante e da oncologia endócrina.
A proximidade à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) é uma das grandes mais-valias do Serviço de Endocrinologia da ULS Santa Maria pois facilita a circulação entre o conhecimento académico e a atividade clínica.
Também nesta MeetEndo apresentamos o lado não clínico de uma reconhecida endocrinologista de Coimbra. A Dr.ª Elizabete Geraldes dispensa apresentações no que respeita ao seu percurso clínico, contudo, talvez poucos saibam que, a par da Medicina, nutre uma paixão por tudo o que está relacionado com a cultura, o cinema, a literatura e todas as formas de arte, em especial a pintura. Foi na sua casa, em Coimbra, que recebeu a nossa equipa de reportagem e partilhou um bocadinho deste seu fascínio, que teve oportunidade de aprofundar, durante a pandemia de COVID-19, altura em que assistiu a diversas conferências online promovidas por museus de todo o mundo.
E como as melhores coisas da vida merecem ser partilhadas, a Dr.ª Elizabete Geraldes tem uma rede de contactos para quem envia periodicamente uma newsletter com sugestões culturais (filmes, exposições, espetáculos musicais).
Para fechar esta edição da MeetEndo, destacamos a presença da Menarini no Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (no Porto) e no Congresso da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (em Vilamoura) onde foi utilizada uma abordagem criativa para alertar os profissionais de saúde sobre a necessidade de uma ação conjunta no diagnóstico e tratamento das doenças associadas à diabetes.
Boa leitura!






Endocrinologia somos nós
Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo da ULS Santa Maria: a aposta na especialização e na multidisciplinaridade

Dr.ª Ema Lacerda Nobre
Diretora do Serviço
Desde a sua criação, em 2003, o Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo da Unidade Local de Saúde Santa Maria tem apostado na diferenciação de forma a garantir um atendimento de excelência a todos os utentes. Atualmente sob a liderança da Dr.ª Ema Lacerda Nobre, este Serviço continua a inovar, empenhando-se sempre na formação e na aquisição de novas competências. Conheça o trabalho desta equipa multidisciplinar.
Foi da fusão entre a Clínica de Endocrinologia e a Clínica de Diabetes que, em 2003, foi criado o Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo da Unidade Local de Saúde (ULS) Santa Maria. O seu fundador, e primeiro Diretor do Serviço, foi o Prof. Doutor Galvão Teles, a quem se seguiu a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo (2006 - 2013), o Prof. Doutor Mário Mascarenhas (2013 - 2016), a Prof.ª Doutora Maria João Bugalho (2016 – 2024) e, desde agosto de 2024, a Dr.ª Ema Lacerda Nobre.
A atual diretora, que entrou neste hospital em 1994 (tendo aqui feito o seu internato), dirige uma equipa com um total de 26 pessoas. “Somos, atualmente, 19 médicos endocrinologistas, dos quais 10 são médicos internos, dois nutricionistas, três psicólogas e duas administrativas”. Para a Dr.ª Ema Lacerda Nobre, a união é um dos elementos que carateriza esta equipa, além disso, “somos um grupo jovem, alegre e sempre com uma grande disponibilidade. Temos uma grande vontade de aprender e somos um Serviço muito humano no trato com os doentes. Clinicamente é também uma equipa de excelência. Por tudo isto, estou muito orgulhosa do meu Serviço”.
A especialista refere considerar também muito importante incentivar, entre a equipa, o convívio e as atividades comuns, “para que as pessoas possam estar felizes e trabalharem com alegria, empenho e disponibilidade”. E é neste âmbito, e por valorizarem um estilo de vida saudável, que têm o grupo Endofit através do qual marcam encontros para fazer caminhadas ou corridas e que é “uma forma saudável de estarmos juntos e de convivermos”.

Prof.ª Doutora Sónia do Vale
Organização do Serviço
No que diz respeito à organização do Serviço, considerando que “a Endocrinologia é muito uma especialidade essencialmente assistencial, a nossa atividade primordial são as consultas”, refere a Dr.ª Ema Lacerda Nobre. Assim, para além da Endocrinologia Geral, “o foco é, também, criar subespecialidades e pessoas mais dedicadas a determinadas áreas, que se possam diferenciar. Isto vai permitir que possamos dar um melhor atendimento – um atendimento de excelência é o que procuramos aqui no Hospital”. Com um total de 20.500 consultas em 2024, o maior número refere-se a Endocrinologia Geral (onde se abordam, essencialmente, as patologias da tiroide e da suprarrenal) e Diabetes.
Consultas subespecializadas
A consulta de Diabetes e a consulta de Diabetes tipo 1 e Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina são coordenadas pela Prof.ª Doutora Sónia do Vale. Nesta área, a especialista destaca a reorganização que tem sida feita após a recente disponibilização das bombas de insulina na farmácia e que permite uma mais fácil acessibilidade, sendo que este era “um dos constrangimentos que tínhamos”. É, portanto, uma fase de transição e que configura, para a Prof.ª Sónia do Vale, um desafio importante. Todas as reorganizações neste âmbito são valorizadas pela especialista pois permitem “dar uma resposta mais ágil, mais centrada no doente e criar valor em Saúde. Para o futuro, temos algumas ideias interessantes que esperamos que os frutos permitam uma melhor resposta à comunidade”.
A consulta de Neuroendocrinologia é outra das subespecialidades existentes neste Serviço e que funciona em formato multidisciplinar, envolvendo “a Neurocirurgia, a Radiologia, a Radioterapia, a Of-talmologia e a Otorrinolaringologia”, explica a Dr.ª Ema Lacerda Nobre. O Serviço integra, inclusivamente, o Centro de Referência Europeu de Patologia Hipofisária, o ENDO-ERN. A Dr.ª Ana Gomes, que fez aqui o seu internato, sendo especialista desde 2018, aloca parte das suas funções a esta consulta e explica o seu funcionamento: “a Neuroendocrinologia acaba por ser dirigida a uma parte especifica da Endocrinologia. Vemos doentes com diferentes tipos de adenomas hipofisários, sejam eles produtores de hormonas – e que podem estar associadas a síndromes especificas – ou que não produzam qualquer hormona. Com o avanço da medicação, já conseguimos controlar grande parte destes adenomas, mas, ainda assim, a maioria destes doentes tem indicação cirúrgica. Nesse contexto, temos uma reunião mensal com a Neurocirurgia para tomarmos a melhor decisão para estes doentes”.

Dr.ª Ana Gomes
A Dr.ª Ana Gomes é a coordenadora da consulta de Endocrinologia e Gravidez. Nesta valência, a médica endocrinologista refere serem “muito exigentes e, nesse sentido, a consulta acaba por ser mais frequente. Se têm diabetes prévia ou diabetes gestacional mal controlada, agendamos a consulta de duas em duas semanas. Como há uma tendência da própria diabetes para agravar ao longo da gravidez, precisam mesmo de um seguimento mais regular”. Esta consulta é realizada também de uma forma multidisciplinar com o apoio da Obstetrícia, facto que a Dr.ª Ana Gomes considera ser bastante positivo “pois conseguimos avaliar os doentes que vão nesse dia a uma consulta com o obstetra e o oposto também acontece”. Quanto ao futuro nesta área, a especialista refere “terem em mente um projeto para analisar se outro tipo de avaliação ou monitorização da glicemia permite alcançar melhores outcomes em termos de desfecho materno-fetal”. Outro aspeto referido, mas no qual sabe existirem “muitas dificuldades, devido à limitação de experimentarmos fármacos na gravidez, era perceber como as novas classes de antidiabéticos não insulínicos se comportariam nas grávidas. Dado o risco materno-fetal não os podemos usar nesse contexto, mas se houvesse algum estudo que pudesse avaliar, claro que seria uma grande ajuda, porque são fármacos que têm ótima evidência na população não grávida”.

Dr.ª Maria Inês Alexandre
A Dr.ª Maria Inês Alexandre, que também faz esta consulta de Endocrinologia e Gravidez, é responsável pela consulta de Endocrinologia Transgéneros. Também neste caso, há uma equipa multidisciplinar: “as pessoas que têm incongruência de género são avaliadas, inicialmente, por uma equipa de psiquiatras e psicólogos e quando têm um diagnóstico de disforia de género e indicação para fazer terapêutica hormonal, passam para a nossa consulta”. Depois de instituída a terapêutica, é feito no Serviço um acompanhamento a longo prazo ao doente. A médica endocrinologista destaca o crescimento que tem existido nesta área nos últimos anos referindo que na altura em que fez aqui o seu internato (que acabou há dois anos), estavam em seguimento cerca de 50 doentes e, neste momento, “temos, aproximadamente, 300 adultos em seguimento com disforia de género. É uma consulta que, sobretudo no pós pandemia, cresceu muito. Todas as semanas temos cinco/seis pedidos de referenciação para a consulta e, por isso, também houve necessidade, da minha parte, de aumentar o tempo dedicado a esta consulta específica e, da parte do Serviço, de ceder outra pessoa” (a Dr.ª Mariana Griné, interna de 4.º ano).
Outra das consultas que integra a atividade assistencial deste Serviço é a consulta de Osteoporose Fraturária. Fundada em 2008, pelo Prof. Doutor Mário Mascarenhas, atualmente, esta consulta é coordenada pela Prof.ª Doutora Ana Paula Barbosa e tem também um caráter multidisciplinar. Neste campo, a ULS Santa Maria integra o sistema FLS (Fracture Liaison Service) – “no fundo, não é mais do que um conjunto multidisciplinar que visa identificar o doente que aparece com uma fratura e não deixar que ele se perca, permanecendo sempre no sistema, de modo a estar acompanhado e evitando que volte a fazer novas fraturas”, explica a médica endocrinologista que integra o Serviço desde 2010. O FLS do Hospital de Santa Maria foi certificado há alguns anos pela International Osteoporosis Foundation (IOF), tendo obtido uma estrela de prata, “claro que gostaríamos de chegar à estrela de ouro, estamos a trabalhar para isso”, afirma a Prof.ª Ana Paula Barbosa.

Prof.ª Doutora Ana Paula Barbosa
Contínua aposta na diferenciação
Mais recentemente, foi também criada a consulta de Diabetes e Transplante. A Dr.ª Inês Cosme, especialista desde 2024, depois de ter feito aqui o seu internato, vai dedicar-se a esta consulta. A endocrinologista está “entusiasmada” com este projeto, reforçando que “vai ser desafiante, vai dar muito trabalho, mas sabemos que é muito importante dar este apoio aos doentes transplantados. Além disso, o contacto com a Nefrologia, o trabalho em articulação, vai também ser muito bom”.
A esta já longa lista de consultas, soma-se a de Oncologia Endócrina. Em outubro de 2024, a Dr.ª Rita Santos integrou a equipa, precisamente, com o intuito de desenvolver esta consulta. A especialista gostava que, no futuro, “a equipa crescesse e que possamos ter uma Oncologia expressiva onde consigamos tratar alguns doentes que, neste momento, temos que enviar para outros serviços mais diferenciados nesta área. Constituindo uma equipa, vamos conseguir ser mais independentes”.

Dr.ª Inês Cosme
O mês de março de 2025 fica marcado pelo regresso ao Serviço da realização das ecografias e citologias ecoguiadas. Para a Dr.ª Maria Inês Alexandre, que somará às suas funções a realização das citologias, este será mais um ponto positivo para o Serviço “pois estamos muito necessitados deste procedimento. A Imagiologia não consegue dar resposta em tempo útil aos pedidos que temos, pois são imensos, chegam-nos muitas pessoas a precisar de citologia”. De acordo com a especialista, soma-se a esta capacidade de resposta mais urgente “a possibilidade de a avaliação dos nódulos ser feita pela Endocrinologia, que não fica limitada à leitura do relatório, mas vê a imagem e tem a capacidade de a analisar”. Esta vertente da realização dos exames complementares de diagnóstico é muito importante “para o apoio às nossas consultas, mas também para a formação dos internos”, destaca a Dr.ª Ema Lacerda Nobre.
Internato médico
Apesar de o Serviço ter idoneidade formativa completa para a especialidade de Endocrinologia, “incentivamos a realização de estágios noutros serviços, seja em Portugal ou no estrangeiro, de forma a que tenham uma visão mais abrangente de diferentes formas de trabalhar”, refere a Dr.ª Ema Lacerda Nobre.
A proximidade à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) é, precisamente, uma das mais-valias apontadas pela diretora ao seu Serviço – “estamos inseridos num hospital universitário, muitos dos nossos médicos pertencem também à faculdade e, esta proximidade, que é uma caraterística nossa, é muito positiva. O facto de termos os alunos e podermos transmitir conhecimento aos futuros médicos é muito importante”. A Prof.ª Doutora Sónia do Vale é a diretora da Clínica Universitária de Endocrinologia da FMUL.
O Dr. Miguel Duarte está no seu 3.º ano de internato e destaca como um ponto positivo nesta experiência a possibilidade de “ter contacto com patologia muito diversificada”. Para o médico interno, o facto de serem incentivados a realizarem estágios dentro das diferentes sub-especialidades é também um ponto bastante positivo: “temo-nos organizado para, durante uns meses, além das nossas consultas, assistirmos às consultas dos especialistas noutras áreas”.
Já a Dr.ª Mariana Griné, a frequentar o 4.º ano de internato, destaca o espírito de entreajuda que existe definindo a equipa como “muito acolhedora e com um grande espírito de entreajuda” o que tem tornado a experiência de internato “espetacular”.
No 5.º ano de internato, a Dr.ª Carolina Peixe salienta, além deste “bom ambiente”, o facto de, “a nível clínico, ser bastante construtivo pelos casos com os quais nos deparamos. Aqui, contactamos com muita patologia, bastante diversa e com casos que nos desafiam e que nos vão tornar clínicos capazes de trabalhar em qualquer local”. Também a Dr.ª Maria Inês Alexandre, que teve aqui uma experiência de internato bastante diferente, por ter decorrido durante o período da pandemia por COVID-19 - “um período difícil e que implicou não termos muitas consultas presenciais”- salienta o facto da existência de várias valências e consultas como algo muito positivo pela experiência que permite adquirir.

Dr.ª Rita Santos
Integração da Nutrição e da Psicologia
A Dr.ª Ema Lacerda Nobre reforça o apoio dado quer pela Nutrição, quer pela Psicologia, “em várias consultas, como da obesidade, da diabetes e dos transgéneros”, tendo o Serviço dois nutricionistas e três psicólogas.
O Dr. João Vieira e o Prof. Doutor José Camolas são os dois nutricionistas do Serviço. “O objetivo de ter nutricionistas na equipa foi muito enquadrado naquilo que seria a ideia de um Serviço diferenciado, existindo a colocação de nutricionistas e também de psicólogos. Na altura, era muito vocacionado para o tratamento da obesidade - que estava a começar em Portugal. Depois veio a obesidade com caraterísticas cirúrgicas e é aqui que, atualmente, é centrado o meu trabalho, dando apoio naquilo que é a dinâmica da Endocrinologia ou do doente endócrino”, explica o Dr. João Vieira, no Serviço há 20 anos.
Também o Prof. Doutor José Camolas salientou esta integração da Nutrição neste Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo como algo muito positivo: “a Endocrinologia e a Nutrição andam de ‘mãos dadas’ desde sempre. No fundo, diria que é quase a sinergia perfeita - temos um foco comum e temos conhecimentos e competências que se interligam e que, de alguma forma, se complementam”. O especialista, que integra o Serviço desde 1999, destaca a mais-valia de, aqui, existir um “entendimento de que o trabalho multidisciplinar serve melhor os utentes”.

Dr. Miguel Duarte
Reforçando esta ideia da multidisciplinariedade numa melhor prestação de cuidados aos doentes, a equipa do Serviço incorpora também três psicólogas clínicas. “Uma das perguntas que costumo fazer aos utentes, logo ao início, é de que forma consideram que a cabeça influencia o que comem ou o seu peso? E as pessoas, normalmente, sabem de que maneira. É muito importante a Psicologia estar incluída no tratamento da obesidade, pois esta é uma doença que tem bastante impacto na autoestima, que pode levar à depressão ou ao isolamento”, refere a Dr.ª Maria João Brito, uma das psicólogas da equipa. Neste momento, a especialista dedica grande parte da sua atividade à avaliação dos doentes para a cirurgia de obesidade – “alguns precisam deste acompanhamento psicoterapêutico antes porque têm relações complicadas com a comida e tem que se resolver essa si-tuação antes da cirurgia. Noutros casos, é o acompanhamento normal pré e pós-cirúrgico. Além da terapia, há também a avaliação para vermos se realmente é a melhor solução enveredar pelo caminho da cirurgia bariátrica”.

Dr.ª Mariana Griné
Articulação com os Cuidados de Saúde Primários
Para a diretora do Serviço, a proximidade entre os Cuidados de Saúde Primários e os Cuidados Hospitalares “é fundamental, pois melhora bastante a acessibilidade do doente às consultas de que necessita”. No sentido de promover essa relação, a Dr.ª Ema Lacerda Nobre salienta a importância de receberem internos de Medicina Geral e Familiar para a realização de estágios. “Esta partilha de experiências e conhecimentos é muito importante e permite até que, no futuro, estes colegas consigam gerir alguns doentes com patologia endócrina sem terem que referenciar à especialidade”.
Em novembro de 2024, foi criado um projeto de teleconsultoria com os centros de saúde do ACES (Agrupamento de Centros de Saúde) da ULS Santa Maria no qual, uma vez por mês, através de uma plataforma online, “nos reunimos para discutir casos clínicos nos quais existam mais questões, em termos de exames complementares, para definir se é, ou não, ne-cessário os doentes serem referenciados ao hospital. Isto é também uma forma de priorizar o atendimento para os que têm patologia que justifica o seguimento no Hospital.

Dr.ª Carolina Peixe
A médica endocrinologista refere ainda a existência de um número de contacto direto do Serviço que foi divulgado nos centros de saúde da ULSSM e que permite que “quando um colega de Medicina Ge-ral e Familiar está a ver um doente e lhe surge uma dúvida, no âmbito da Endocrinologia, tenha acesso ao nosso Serviço de uma forma mais direta”.
Os REencontros com a Endocrinologia, organizados pelo Serviço com o apoio da AIDFM (Associação para Investigação e Desenvolvimento da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), são também uma forma de estabelecer contacto com a Medicina Geral e Familiar. O objetivo é que estes REencontros sejam feitos de forma bienal. Este empenho do Serviço na formação foi algo reforçado pelo Prof. Doutor José Camolas – “foi sempre uma aposta, interna ou externamente, a realização de atividades de formação. Existe este estímulo do Serviço no desenvolvimento técnico-científico dos seus colaboradores”.

Dr. João Vieira
Mais-valias do Serviço
Perante toda esta realidade, a existência das consultas diferenciadas é, para a Dr.ª Ema Lacerda Nobre, uma das mais-valias deste Serviço. “Somos um hospital de fim de linha e, como tal, os doentes procuram-nos, muitas vezes, com patologias complexas, mas nós temos capacidade de resposta, não só pelo Serviço, mas também pelo hospital, pois temos acesso a terapêuticas inovadoras e exames recentes. Tudo isto é uma mais-valia para os doentes, pois confere segurança, apesar da complexidade da situação clínica”.
Segundo a Dr.ª Ema Lacerda Nobre, outro ponto forte do Serviço é o apoio prestado pelos dirigentes da ULSSM, nomeadamente pelo Dr. Carlos das Neves Martins, Presidente do Conselho de Administração, e pelo Prof. Doutor Rui Tato Marinho, Diretor Clínico para a Área dos Cuidados de Saúde Hospitalares: “sentimo-nos apoiados e seguros e, sempre que surge uma questão que necessite de resolução rápida, contamos com a sua disponibilidade para a solucionar.”

Prof. Doutor José Camolas
Há também uma boa articulação com os serviços de Endocrinologia de outros hospitais, “outra caraterística muito boa”, salienta a Dr.ª Ema Lacerda Nobre. “Temos facilidade de partilha de acordo com as necessidades dos doentes. Se temos um doente que precisa de uma técnica ou exame, que não fazemos, o que pontualmente pode acontecer, facilmente articulamos com o hospital onde se realiza e vice-versa”.
A Prof.ª Doutora Sónia do Vale reforça também, como uma das mais valias deste Serviço, e a mais importante, “as pessoas”. “Temos uma equipa muito interessante, com um bom ambiente de trabalho, o que é muito bom”, conclui a endocrinologista.

Dr.ª Maria João Brito
Projetos para o futuro
Para a Dr.ª Ema Lacerda Nobre outro ponto importante é reforçar o capital humano do Serviço. Nos últimos anos tem havido uma redução de médicos por aposentação ou saída para outros hospitais, o que compromete a acessibilidade ao Serviço. “Tem havido uma redução de elementos do Serviço, mas os doentes continuam a ser os mesmos, se não mais”. No último ano, contrataram dois especialistas, o que a leva a considerar que, apesar de tudo, estão no “bom caminho”. Esta questão é reforçada até pela importância de garantir a capacidade formativa dos futuros endocrinologistas e para a qual é também fundamental “fixar os médicos mais velhos”.
Além deste objetivo, em termos de futuro para o Serviço, “os projetos que temos acabam por ser muito no âmbito da diferenciação das consultas. Já temos muitas delas implementadas, mas no fundo, queremos formar mais médicos em algumas áreas específicas para nos tornarmos centro de referência a nível nacional para algumas áreas da Endocrinologia ”, conclui a Dr.ª Ema Lacerda Nobre.
O serviço pela voz da sua diretora
A perspetiva da equipa

Fora do consultório
Dr.ª Elizabete Geraldes: o encontro entre a Arte e a Medicina

Dr.ª Elizabete Geraldes
Ao longo da sua carreira médica, a Dr.ª Elizabete Geraldes equilibrou duas paixões: a ciência e a arte. Nesta quarta edição da MeetEndo, fomos conhecer de que modo o amor pela cultura e pelas artes influencia a forma como a médica vê o mundo e, também, a sua prática clínica na Endocrinologia, especialidade que define como “fascinante”.
Com seis meses de idade, a Dr.ª Elizabete Geraldes emigrou com os pais para Angola, onde viveu até ao início da idade adulta, tendo frequentado os primeiros dois anos de Medicina em Luanda. Quando regressou à então metrópole, fixou-se em Coimbra, onde concluiu os estudos e, na altura, em pleno período pós-25 de Abril, realizou o serviço médico à periferia (SMP) - criado em 1975, o SMP constituía um passo obrigatório para os jovens médicos poderem ingressar nos internatos das especialidades e levou cuidados de saúde às regiões mais isoladas do país. “Foi um ano muito agradá-vel para mim. Estive em São Pedro do Sul e, foi naquela região, que tive consciência de como o país era pobre. Eram de uma pobreza atroz as nossas aldeias”, recorda a endocrinologista. Mas foi aí, ao contactar com um caso de uma menina com ambiguidade sexual, que despertou o seu interesse pela Endocrinologia. “Após o serviço médico à periferia vim logo para a Endocrinologia, como interna, à espera de exame. Na altura, estava ainda a começar a especialidade no Hospital Universitário de Coimbra, com o Dr. Almeida Ruas, a Dr.ª Manuela Carvalheira, a Dr.ª Beatriz Campos e o Dr. Simões Pereira”. Sobre essa escolha, a Dr.ª Elizabete Geraldes não mostra qualquer arrependimento uma vez que “a nossa especialidade é fascinante ”.
Do Serviço de Endocrinologia da ULS Coimbra recorda o serem apelidados como “o serviço das fotocópias, pois procurávamos estar sempre a par das novidades”. Referindo-se à edição anterior da MeetEndo, que deu a conhecer este Serviço e a sua equipa, a Dr.ª Elizabete Geraldes mostra alegria por ver um Serviço tão grande, com tantos elementos, e que já formou 45 endocrinologistas, porquanto “estão todos a sair deste núcleo que começou com tão poucos elementos”. Ainda na sua experiência profissional destaca a criação da Associação dos Diabéticos da Zona Centro por, na altura, ter considerado “ser importante dar empoderamento a estes doentes para estarem mais motivados e poderem ser tratados corretamente”.
A arte como inspiração na Medicina
Em paralelo à sua paixão pela Endocrinologia, existe a paixão por “tudo o que está relacionado com a cultura, o cinema, a literatura, todas as artes, mas em especial a pintura”. A Dr.ª Elizabete Geraldes recorda que “em miúda, o meu pai tocava violino e estimulava-nos muito para as artes, por isso, desde então, ficava fascinada sempre que via um quadro”. Chegou, inclusivamente, a ter aulas de pintura: “na escola pediram-nos para pintar um barco e eu desenhei um moliceiro de Aveiro. O que mais gostei de pintar foi o painel que o moliceiro tem na proa. Foi tão inovador que a professora me chamou e disse-me que eu tinha de começar a pintar”. No entanto, apesar das aulas, nunca se dedicou a esta arte, “mas tenho sorte porque os meus descendentes pintam e fazem quadros. Deve haver um gene que passou para eles”, brinca a endocrinologista. Também na família a Dr. Elizabete Geraldes incutiu esta paixão pela arte, “os meus netos estão no estrangeiro e, a qualquer sítio onde vão, visitam sempre os museus”, o que a deixa especialmente satisfeita.
Enquanto ainda exercia, até durante os congressos médicos, conciliava a ciência e a cultura – “nunca fui de centros comerciais. Nos tempos que tínhamos livres muitos iam para os centros comerciais, eu ia para os museus. Mas não ia sozinha, encontrava outros endocrinologistas, muitos gostam imenso de pintura”.
Na relação com os doentes sentiu, igualmente, esta influência “quando queremos que o Ser Humano que está ali à nossa frente fique bom para gozar a vida, acho que isso também vem do prazer que temos e que sentimos quando vemos uma coisa bela. Uma pessoa estando com saúde e bem consigo própria consegue aperceber-se melhor da beleza do que quando está doente e diminuída”, partilha.
A partilha do belo
Em 2020, na altura do confinamento devido à pandemia por COVID-19, a Dr.ª Elizabete Geraldes descobre uma nova forma de viver esta paixão: “comecei a assistir online a imensas conferências nos principais museus do mundo. Por exemplo, na National Gallery, em Londres, todos os dias há um historiador que, em frente a um quadro, o examina, explica a sua história e a do pintor. Ali, num espaço de meia hora, ficamos a saber muito sobre essa obra.” Mantém, até hoje, estas visitas virtuais aos museus – “ainda ontem fui ao Centro Pompidou de Paris onde, até ao final de maio, está uma exposição da pintora francesa Suzanne Valadon, a primeira mulher que, no princípio do século XX, pinta um nu masculino frontal”.
Perante isto e porque, como refere, sempre gostou de partilhar, “quando fundei a Asso-ciação dos Diabéticos da Zona Centro foi, precisamente, para uma partilha de conhe-cimentos”, a Dr.ª Elizabete Geraldes criou uma lista de emails para a qual envia fre-quentemente sugestões culturais – exposições, sugestões de filmes ou livros. “Ainda ontem enviei a sugestão do filme ‘Mon Oncle’, de Jacques Tati, um filme delicioso, de 1958, uma sátira que mostra o grande choque que há entre a sociedade tradicional francesa e a sociedade pós-moderna”.
“O que eu quero é que as pessoas vejam aquilo que eu sei que é tão belo”, refere a endocrinologista sobre esta atividade que desenvolve. Sendo raro o dia em que não faça uma visita virtual, envia estes emails com sugestões de forma frequente, algo que sabe ser do agrado de quem as recebe pois “estão sempre a agradecer-me”. A médica endocrinologista conclui afirmando, com certeza, de que a arte “traz felicidade às pessoas”, daí esta dedicação em partilhar essas descobertas com os outros.
Assista ao vídeo da entrevista
A Menarini esteve aqui


Especialistas no tratamento da diabetes participaram recentemente numa iniciativa inovadora promovida pela Menarini Portugal, que apresentou novas designações para complicações da doença, como o Obesus Maximus, Cardius Fragis e Sanguis Docis. A campanha teve como palco os congressos da SPEDM, no Porto, e da SPD, em Vilamoura, destacando a urgência no combate aos “monstros” da diabetes, uma pandemia crescente cujas consequências são cada vez mais devastadoras.
A Menarini utilizou uma abordagem criativa para alertar os profissionais de saúde sobre a necessidade de uma ação conjunta no diagnóstico e tratamento das doenças associadas à diabetes. Durante os eventos, a programação nos stands foi interrompida por um “breaking news” fictício, simulando a invasão de monstros em representação das diversas complicações da diabetes.


Designados por Diabetes Busters, os profissionais de saúde foram convidados a reforçar a luta contra a doença, respondendo a questões sobre qual destes “monstros” apresentam maior dificuldade de combater na sua prática clínica. Um questionário interativo permitiu ainda identificar o Obesus Maximus como sendo o “monstro” mais temido, numa referência à obesidade.

Os dados mais recentes indicam que, em 2021, quase 80.000 novos casos de diabetes foram diagnosticados em Portugal, com cerca de 880.000 pessoas registadas em centros de saúde. Com estas presenças, a Menarini Portugal continua a reafirmar o seu compromisso com a saúde pública e com os profissionais de saúde que enfrentam, todos os dias, os desafios impostos pela diabetes.

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