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de saúde - EDIÇÃO 2

“Pessoas excecionais e muito bem preparadas” são uma das marcas do Serviço de Endocrinologia da ULS Gaia e Espinho

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Editorial

MeetEndo, pelos corredores da Endocrinologia Portuguesa

Cátia Jorge
Jornalista Editora Raio-X

Nesta segunda edição da MeetEndo, fomos recebidos no Serviço de Endocrinologia da Unidade Local de Saúde Gaia e Espinho para conhecer o trabalho da equipa liderada pela Dr.ª Maria João Oliveira. O que começou por ser uma pequena unidade constituída por apenas três especialistas em Endocrinologia, é hoje um Serviço robusto, do qual fazem parte nove endocrinologistas, e onde não falta o importante apoio da Enfermagem e da Nutrição. Atualmente capaz de dar resposta a todas as áreas da patologia endócrina, o Serviço tem já um espaço físico dentro do hospital e orgulha-se de não ter lista de espera, conseguindo dar resposta a situações urgentes em tempo útil. Venha connosco nesta visita e conheça alguns dos elementos desta equipa dinâmica e motivada para fazer a diferença na vida dos doentes da margem sul do Douro.

Fora do consultório, é com grande orgulho que, no ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril, damos voz à Prof.ª Isabel do Carmo, que conciliou os seus estudos e a sua atividade clínica em Endocrinologia com a construção da liberdade pelas suas próprias mãos. De todos conhecida pelo ativismo político, a especialista conta alguns dos episódios mais marcantes da era pré e pós-revolução, desde os períodos que passou na prisão, às perseguições da PIDE. Entre lutas e contestações, é uma mulher da revolução, mas também da ciência. Leia até ao fim e deixe-se comover com as palavras da Prof.ª Isabel do Carmo.

Encerramos esta edição com um regresso ao Congresso da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, que decorreu em Vilamoura no início de fevereiro passado. A Menarini fez uma verdadeira “caça ao monstro da diabetes”.

Endocrinologia somos nós

“Pessoas excecionais e muito bem preparadas” são uma das marcas do Serviço de Endocrinologia da ULS Gaia e Espinho

Dr.ª Maria João Oliveira
Diretora do Serviço de Endocrinologia da ULSGE

Foi em janeiro de 2010 que a Dr.ª Maria João Oliveira entrou no serviço de Endocrinologia da ULS Gaia e Espinho (ULSGE). A atual diretora do serviço recordou à MeetEndo alguns dos passos importantes que têm sido dados e que permitem que, atualmente, nas suas palavras, este seja um serviço que consegue “dar resposta a todas as áreas da patologia endócrina”.

Inicialmente, a Endocrinologia surgiu neste hospital como uma unidade, uma vez que eram menos de três os especialistas desta área. O número de elementos foi crescendo e, no presente, são já nove os médicos endocrinologistas que integram este serviço. “Na altura em que vim também não tínhamos um espaço próprio”, recorda a Dr.ª Maria João Oliveira que, no ano seguinte à sua chegada, conseguiu que fosse atribuído um espaço à Endocrinologia. Ainda sobre o período da sua chegada ao serviço, a especialista lembra que “se fazia, essencialmente, obesidade, diabetes e pouco mais” pelo que se dedicou ao desenvolvimento de outras áreas: “não fazia sentido termos uma abrangência tão grande e, por exemplo, os doentes com patologia hipofisária estarem a ser referenciados para o Hospital de Santo António, quando podiam ser tratados aqui”.

Foi assim que se iniciou o processo de diferenciação deste serviço, sendo que também fez parte “explicar aos enfermeiros que a Endocrinologia era muito para além da diabetes. E a equipa de enfermagem gostou imenso e começou a entrar também noutras patologias, o que é essencial dado termos muitas outras doenças que precisam imenso da abordagem também por parte da enfermagem. O mesmo aconteceu com a equipa de Nutrição - começaram a ver que não era só o doente com obesidade ou com diabetes que precisava dos cuidados desta especialidade, mas também outros doentes como, por exemplo, as patologias da hipófise, os déficits de cálcio, o hipoparatiroidismo”.

A realização de biopsias da tiroide pelo serviço – que antes tinham de ser realizadas pela Imagiologia e, muitas vezes, até fora do hospital – e a obtenção da idoneidade formativa foram outros dois marcos importantes neste crescimento assinalados pela Dr.ª Maria João Oliveira.

Atualmente, o tempo de resposta é, para a sua diretora, a principal mais-valia do serviço: “conseguimos cumprir perfeitamente os prazos da consulta - quatro meses para a consulta não urgente, dois meses para a consulta urgente e um mês para a consulta muito urgente. Portanto, isso é uma mais-valia do serviço, nós não temos lista de espera, conseguimos cumprir os prazos”.

Dr. Gustavo Rocha

Em outubro de 2014, o Dr. Gustavo Rocha completa, igualmente, 14 anos deste serviço. O endocrinologista recorda como tem sido este percurso: “tem sido uma experiência muito gratificante e pude presenciar algo que muitos colegas não puderam – quando vim para cá éramos poucos elementos, não tínhamos instalações próprias, gabinetes ou sala de reuniões. Mas, com a capacidade de trabalho e a organização da Dr.ª Maria João Oliveira, fomos conquistando esses meios”. Com uma vasta área de referenciação, que ronda os 700 mil utentes, “neste serviço, temos a oportunidade de ver muitos doentes e com uma patologia muito diversificada e aqui temos todos os meios necessários para fazer o devido acompanhamento”, reforça o especialista. Acrescenta ainda que, nos dias de hoje, este é um serviço “muito reconhecido em algumas áreas, das quais destaco a patologia da tiroide. Temos muitas pessoas dedicadas a esta área, nomeadamente a técnicas na tiroide – ecografia, citologia de nódulos tiroideus e tratamento com álcool de quistos tiroideus - que são poucos os centros no país que fazem e que poupam os doentes de cirurgia”.

Dr. Henrique Alexandrino

Também o Dr. Henrique Alexandrino, interno de 4.º ano neste serviço, reforça que o “nosso ex-líbris é, sem dúvida, a patologia tiroideia e paratiroideia, temos uma grande diferenciação e formação em tudo o que envolve a tiroide e paratiroide, quer de diagnóstico, quer de tratamento. Temos também uma componente forte no que diz respeito ao pé diabético e temos desenvolvido outras áreas com a criação de novas consultas ao nível da hipófise, mas também ao nível da diabetes, das novas tecnologias, que são o futuro”.

Dr.ª Patrícia Tavares

Abordagem do doente diabético

Além das consultas mais gerais, são igualmente disponibilizadas pelo serviço algumas mais especificas, nomeadamente, na área da diabetes. A consulta de tecnologias é um desses exemplos.

A Dr.ª Patrícia Tavares, que integra o serviço desde 2014, tendo sido a primeira interna, é uma das especialistas que se dedica a esta área das novas tecnologias da diabetes. O serviço é também um centro de colocação de bombas infusoras de insulina e a endocrinologista explica que sentiram a necessidade de criar esta consulta uma vez que “a tecnologia ajuda muito os doentes e os profissionais, mas é preciso tempo para analisar todos os dados que essa tecnologia nos dispensa. Esta é uma forma de otimizarmos a utilização destes recursos, permitindo um melhor controlo glicémico dos doentes”. Além da Endocrinologia, a consulta funciona com a presença de um nutricionista e de um enfermeiro, rentabilizando também, desta forma, o tempo do doente. “Estes são doentes que precisam de uma abordagem mais global e com mais calma”, reforça a diretora do serviço a propósito desta consulta.

Já anterior à chegada da Dr.ª Maria João Oliveira ao serviço é a consulta de pé diabético, tendo apenas sido reorganizada. Atualmente, o serviço tem três consultas de pé diabético por semana decorrendo, numa dessas vezes, de forma multidisciplinar com a presença da Ortopedia, da Cirurgia Vascular e da Medicina Interna. Nas outras duas vezes, a consulta é realizada apenas pela Endocrinologia com o apoio da enfermagem “para uma primeira abordagem da úlcera do diabético e também para dar resposta ao doente que não precisa de cuidados mais avançados pela Ortopedia ou que não tem patologia vascular grave e, portanto, nós conseguimos seguir e tratar a úlcera sem as outras duas especialidades”, explica a diretora do serviço.

Dr.ª Ana Sousa

Quanto ao futuro nesta área da abordagem ao pé diabético, a Dr.ª Ana Sousa, que há 10 anos integra esta equipa, refere que gostaria que o serviço tivesse “não só acesso às novas formas de tratamento, mas também a mais podologistas”. Este é um desejo igualmente manifestado pela diretora do serviço – “ter uma podologista a tempo inteiro é fundamental. E, além disto, temos o projeto de aumentar em mais dois dias por semana a consulta do pé diabético, ou seja, que todos os dias exista esta consulta”. A Dr.ª Ana Sousa aproveita ainda para fazer uma reflexão sobre como tem sido trabalhar neste serviço nos últimos dez anos e que está “muito diferente do que era quando entrei. Cobrimos uma área geográfica muito grande e éramos poucos elementos, portanto era um desafio em termos de números de consultas e capacidade de dar resposta”.

No que diz respeito à abordagem do doente diabético, a Dr.ª Patricia Tavares reforça também as ações que são desenvolvidas diretamente junto da população – “no âmbito do Dia Mundial da Diabetes, todos os anos tentamos fazer algo. Já fizemos caminhadas, sessões de exercícios, já distribuímos flyers na sala de espera sobre recomendações básicas para melhorar a diabetes, por exemplo”.

Consultas de sub-especialidade

“Uma consulta que dá uma resposta rápida, na qual o doente vem e, se tiver alguma patologia nodular, faz a biopsia aspirativa no próprio dia - muitas vezes nem necessitando de ser novamente avaliado. Desde que o resultado seja benigno e o nódulo não seja muito volumoso, conseguimos encaminhar logo o doente com os resultados para os Cuidados de Saúde Primários”, é assim que a Dr.ª Maria João Oliveira define a consulta de tiroide realizada na ULSGE. Acrescenta que, nesta consulta, “fazemos também drenagem de quistos tiroideus e o tratamento com etanol de quistos tiroideus com esclerose. É uma consulta que dá uma resposta muito rápida à patologia nodular da tiroide, mas também fazemos ecografias das paratiroides. Por exemplo, às vezes vêm doentes do exterior com patologias da paratiroide, em que as ecografias não dão qualquer resultado e nós repetimos sempre aqui, porque temos muito bons resultados e, geralmente, conseguimos sempre encontrar as paratiroides suspeitas”.

Uma outra consulta – criada logo no início da Dr.ª Maria João Oliveira no serviço – é a consulta de grupo de patologia endócrina. Funciona uma vez por semana, em conjunto com a Cirurgia Geral e também com o apoio da Medicina Nuclear. Esta consulta “segue os doentes com cancro da tiroide, suprarrenal ou das paratiroides e, para além disso, também avalia todos os doentes que necessitam de fazer cirurgia”, explica a diretora do serviço.

É também num contexto multidisciplinar que decorre a consulta de patologia hipofisária. É uma consulta de grupo que inclui a Neurocirurgia e o apoio da Neurorradiologia, em que “uma vez por mês, avaliamos doentes ou com tumores da hipófise, ou doentes que consideramos que têm indicação para cirurgia e, portanto, os apresentamos à Neurocirurgia”.

Enf.ª Isaura Duarte

Em 2024, a oferta do serviço foi reforçada - surgiu a consulta multidisciplinar de tumores neuroendócrinos. “Esta é uma patologia mais rara dentro das patologias da Endocrinologia, mas com uma incidência crescente e com um comportamento complexo, daí a importância de ser multidisciplinar”, refere o Dr. Gustavo Rocha, responsável por esta criação. A Endocrinologia, a Radiologia, a Oncologia Médica, a Gastroenterologia e a Medicina Nuclear são as especialidades envolvidas nesta consulta que ocorre com uma periodicidade quinzenal. “Qualquer uma destas especialidades pode trazer os seus doentes que precisam de ser discutidos para se tomarem decisões, quer no que diz respeito a exames de seguimento, quer a terapêuticas”. Para o futuro nesta área, o endocrinologista revela existir o desejo, por parte do diretor do departamento de Medicina, “de criar uma clínica de tumores neuroendócrinos no hospital cujo objetivo é facilitar o percurso destes doentes não perdendo tempo e otimizando a utilização dos recursos em relação aos meios auxiliares de diagnóstico e ao tratamento. Portanto, apesar de ser uma consulta que ainda está a ser organizada, vai ter uma estrutura muito sólida e vamos ter um fluxograma de ação perante esta patologia”.

Dr. Nuno Jesus

Todas estas consultas multidisciplinares são, para a Dr.ª Maria João Oliveira, também uma vantagem do serviço: “são muito importantes porque a abordagem multidisciplinar do doente, hoje em dia, é fundamental, nomeadamente no campo da diabetes, com a abordagem simultânea por parte da educação, da enfermagem e da nutrição, mas também no campo de todas aquelas patologias que necessitam de cuidados cirúrgicos, como a patologia da tiroide, as paratiroides, as supra-renais”.

De referir ainda a realização, pela equipa deste serviço, de uma consulta na Unidade 3 em Espinho – “não é uma consulta especifica, mas é uma forma de dar resposta aos doentes de lá evitando que tenham de se deslocar”, refere a Dr.ª Maria João Oliveira. Para o Dr. Nuno Jesus, interno de 3.º ano, esta deslocação “acaba por ser também uma experiência muito enriquecedo-ra porque contactamos com novas realidades e com desafios diferentes. É bastante positiva para mim, enquanto interno, mas também para o doente porque acabamos por ter uma oferta de uma consulta especializada de uma forma mais próxima”.

A consulta da patologia endócrina na grávida já existia no serviço antes da chegada da atual diretora, tendo sido desenvolvida de forma a poder dar resposta a todas as grávidas que tenham este tipo de patologias. Neste caso, são os elementos do serviço de Endocrinologia que se deslocam à consulta de Obstetrícia para poderem fazer esta observação das doentes.

O serviço não dispõe de internamento próprio recorrendo ao serviço de gestão de camas da ULSGE quando necessitam de internar algum doente. Para a diretora do serviço isto permite que se “aprenda a gerir doentes em ambulatório”. “Claro que há descompensações agudas que necessitam obrigatoriamente de internamento, mas, tirando isso, conseguimos gerir praticamente tudo em ambulatório”. A existência do Hospital de Dia da Endocrinologia também permite que “acabemos por internar menos doentes porque os conseguimos gerir durante o dia aqui”, explica a Dr.ª Maria João Oliveira.

Dr.ª Carla Guerra

Equipa

Relativamente à equipa do seu serviço, a Dr.ª Maria João Oliveira destaca ser constituída por “pessoas excecionais, muito bem preparadas, muito trabalhadoras e todos gostamos de trabalhar em grupo”.

Além dos elementos médicos, a diretora de serviço foca também a qualidade da equipa de enfermagem “que é espetacular e que se adapta a todas as situações o que, por vezes, não é fácil”. O serviço de Endocrinologia tem cinco enfermeiras que se dedicam exclusivamente a esta área, sendo esta uma grande vantagem por permitir a especialização. “Quando vim para o serviço eram dedicadas quase exclusivamente à diabetes, neste momento, fazem terapêuticas para tumores hipofisários, explicam ao doente o que se está a passar, fazem prevenção de crises adrenais, ajudam nas citologias da tiroide e nas escleroses com etanol dos quistos tiroideus. Portanto, adaptaram-se a tudo o que aqui fazemos e diferenciaram-se”, refere a Dr.ª Maria João Oliveira. A Enf.ª Isaura Duarte reforça que um dos principais desafios no seu trabalho, precisamente de forma a conseguir desempenhar todas estas funções, é o “termos de estar sempre atualizadas, sendo necessário fazer muita formação”. Em relação ao futuro, para a enfermeira que há 20 anos integra este serviço, “seria fundamental termos mais elementos. Nestes 20 anos houve uma evolução imensa, mas temos de continuar a crescer. Quanto mais gente capacitada e motivada para esta área tivermos, melhor será a forma de tratarmos os nossos doentes”. Desde 2018 no serviço, onde fez o seu internato, a Dr.ª Sara Correia reforça que aqui existe “um ambiente muito bom. As pessoas fazem muita diferença num serviço”. O facto de existir uma equipa de enfermagem dedicada em exclusivo à Endocrinologia e a existência de um hospital de dia integrado no próprio serviço, para a especialista, fazem toda a diferença e criam bastante proximidade.

A diretora do serviço menciona ainda a vantagem que é o serviço poder contar com a colaboração estreita com uma equipa de três nutricionistas. A Dr.ª Carla Guerra é uma dessas nutricionistas e refere que esta é “uma excelente articulação. Trabalhamos em conjunto com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos doentes – principalmente dos doentes diabéticos e obesos. Há uma partilha de informação e trabalhamos de forma multidisciplinar”.

As pessoas que o constituem são, também para o Dr. Diogo Ramalho, uma das principais mais valias deste serviço: “os nossos pares são pessoas muito abertas, altruístas, e que nos dão muito conhecimento prático. Isto é muito importante quando temos pessoas que têm uma enorme experiência clínica, que observam muitos doentes com patologias muito diversificadas. Vemos uma grande panóplia de patologias e, portanto, somos confrontados todos os dias com novos desafios e aprendemos todos os dias”.

Ainda no âmbito da equipa, a parte admi¬nistrativa e as assistentes operacionais não são deixadas de fora pela Dr.ª Maria João Oliveira, que foca a sua importância e conclui que todos os elementos – incluindo os cargos não clínicos – formam ali “uma mini família”.

Dr.ª Sara Correia

Internato

O Dr. Gustavo Rocha é, atualmente, o responsável pela área do internato complementar. Para o especialista, é fundamental para um serviço esta componente da idoneidade formativa e refere que “temos tido muita sorte com os colegas que têm escolhido este serviço para fazer a sua formação porque são pessoas muito dinâmicas. Isto obriga-nos também a sermos mais dinâmicos e a não estagnarmos, a termos ideias e estudarmos. Eles fazem muita produção científica, que também dá nome à instituição e ao serviço e, desde muito cedo, começam também a sua atividade clínica de forma autónoma, sempre com um especialista que está ali por perto, claro, para o caso de ser necessário. Acho que têm uma formação bastante sólida e que estamos a formar bons clínicos”.

A promoção da investigação científica a par da prática clínica é também referida pela Dr.ª Sara Correia acerca da sua experiência de internato aqui, reforçando ainda a vantagem “de ser um serviço em que vemos várias formas de trabalhar, em que existem patologias muito diversificadas e um grupo de internos muito coeso”. Já para o Dr. Nuno Jesus, “a possibilidade de sermos um hospital de fim de linha em muitas especialidades e, então, termos aqui muitas especialidades que colaboram connosco e que estão disponíveis para nos ajudar a gerir os desafios que nos vão aparecer na consulta” representa uma das mais-valias da formação neste serviço.

Neste aspeto da formação dos internos, a diretora do serviço destaca que depois do primeiro ano que é feito na Medicina Interna, nos três anos seguintes, que são passados na Endocrinologia, “gosto que o vão fazer noutros serviços, é muito bom para terem outras perspetivas”. É o caso do Dr. Henrique Alexandrino que, no seu quarto ano de internato, foca “que o percurso tem sido bom. Tem-me sido dada a possibilidade de fazer os estágios que pretendo, passar por diversas áreas - há essa abertura e possibilidade. Fazemos também o nosso próprio percurso o que é ótimo”.

Dr. Diogo Ramalho

Articulação com os CSP

No que diz respeito à articulação entre o serviço e os Cuidados de Saúde Primários (CSP), a Dr.ª Maria João Oliveira refere ter esperança de que, com a criação da recém ULSGE, esta seja reforçada. “Quando vim para cá, uma das coisas que me propus fazer foi consultoria nos centros de saúde. Depois, com a pandemia por COVID-19 isso terminou e não foi reiniciado ainda”, esclarece a diretora de serviço acrescentando que agora a utilização das ferramentas de videochamada “são uma boa opção para reiniciarmos a consultoria”. Há também um telemóvel do serviço que está sempre disponível e que pode ser usado para os CSP entrarem em contacto, “por vezes, com dúvidas que podem ser resolvidas na altura, outras vezes para dizerem que nos vão referenciar algum doente grave”.

Um projeto que está previsto arrancar brevemente e que vai funcionar em articulação com os CSP é a Clínica da Diabetes. Para a Dr.ª Maria João Oliveira, houve já uma grande evolução nos cuidados prestados ao nível primário, “mas ainda temos que evoluir para trabalharmos mais em conjunto. Muitas vezes não se justifica, de forma alguma, um doente vir ao hospital para fazer um penso, ou para tirar uma calosidade, mas isso pode ser fundamental para aquele pé e, por isso, essa abordagem tem que ser mesmo bem feita nos cuidados primários”.

A Clínica da Tiroide é outra iniciativa cuja implementação está prevista e que foi também um dos planos para a formação da ULSGE. Para a diretora do serviço, estas clínicas são importantes pois “permitem uma abordagem mais rápida do doente e, além disso, um dos objetivos fundamentais é o de trabalhar para o bem-estar do doente”.

Futuro do serviço

Além de todos estes projetos já referidos, no futuro, a Dr.ª Maria João Oliveira gostaria também de otimizar o apoio prestado ao serviço de urgência. De acordo com a endocrinologista, isto passa por ter “todos os dias, 12 horas, um endocrinologista para fazer apoio rápido ao serviço de urgência e ao internamento. No entanto, isto implica não fazermos tantas consultas externas, pelo que tem tudo de ser muito bem programado”.

No final, a diretora do serviço deixa ainda um desafio à participação num novo projeto: este ano vão acontecer, no dia 15 de novembro, no hotel EXE Praia Golfe Hotel, em Espinho, as 1.as Jornadas de Endocrinologia e Nutrição da ULS Gaia Espinho. “Os temas são variados, para além da diabetes - porque o evento é uma parte integrante das celebrações do Dia Mundial da Diabetes 2024 - iremos falar sobre obesidade e sarcopenia, abordagem de feridas do pé diabético, exercício físico na comunidade, metabolismo ósseo e osteoporose, patologia da tiroide. Iremos também ter um espaço para a apresentação de trabalhos”. “Todos serão bem vindos”, conclui a diretora do serviço lançando o apelo.

ULSGE: o serviço pela voz da diretora

A perspetiva da equipa

Fora do consultório

Prof.ª Doutora Isabel do Carmo: Uma vida dedicada à Medicina e à luta pela Liberdade

Prof.ª Doutora Isabel do Carmo

Foi na sua casa, em Lisboa, que a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo nos recebeu para partilhar connosco algumas memórias marcantes do seu percurso. Hoje, 50 anos após o 25 de abril, a médica endocrinologista recordou os tempos enquanto ativista política na luta contra a ditadura – atividade que conciliou sempre com a prática profissional - “nunca me desliguei da profissão porque, verdadeiramente, gosto de ser médica”, partilha.

O facto de ter nascido no Barreiro (no ano de 1940), é o ponto de partida para esta história pois este “era um meio muito contra o regime do Estado Novo, tal como a família que me rodeava”, conta a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo. Aos 10 anos, pela inexistência de liceus na cidade onde nasceu, vai para Setúbal, onde estuda durante cinco anos “na única turma mista a nível nacional, mas em todo o distrito de Setúbal não havia alunos suficientes para fazer duas turmas”, recorda. A este período somaram-se dois anos no Liceu Maria Amália, em Lisboa, onde completou o antigo 7.º ano. É depois disto, com 17 anos, que ingressa na Faculdade de Medicina de Lisboa. Sobre esse período recorda que, na altura, “não havia especialidade de Endocrinologia, quem queria fazer esta especialidade fazia os dois anos do internato e depois entrava para Medicina Interna. Isto tem influência na minha atitude atual em relação aos doentes porque os vejo também muito numa perspetiva de Medicina Interna”.

É na Faculdade de Medicina que se liga à Comissão Pró-Associação de Medicina – a Associação tinha sido fechada pela PIDE. Este era “um grupo grande, aberto e onde conheci pessoas que foram amigos para a vida e de quem ainda hoje sou amiga” e é também neste período, aos 18 anos, em 1958, que integra o Partido Comunista Português (PCP).

As Brigadas Revolucionárias

Um marco importante na sua ação política foi a criação das Brigadas Revolucionárias, em 1973. A primeira organização com uma mulher na direção. Nesta conversa, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo relembra qual o contexto que se vivia na altura e os motivos que conduziram à criação desta organização: “em 1969, quando já estava no PCP, formaram-se as Comissões Democráticas Eleitorais, aproveitando o período de liberdade eleitoral para concorrer às eleições legislativas e onde houve muitas comissões e grande troca de ideias”. No entanto, apesar deste clima de aparente abertura política, “chegámos às eleições e, mais uma vez, foi uma falcatrua e não aconteceu nada. Havia já a convicção profunda nas pessoas que lutavam contra o regime, e mesmo nas outras, de que não era possível alterá-lo em termos eleitorais. Dentro do PCP havia uma grande pressão para existirem ações armadas e que só dessa forma poderíamos derrubar o regime”, recorda a endocrinologista acrescentando que a isto se somava o contexto da Guerra Colonial que decorria já há oito anos e “sem qualquer perspetiva de acabar”.

É em 1970, quando está em Paris a realizar um estágio, que conhece o Carlos Antunes – funcionário do PCP e com quem viria a formar as Brigadas Revolucionárias. “Eu insisti muito na ideia de que era necessária a ação armada e, a certa altura, o Carlos Antunes deixou-se infiltrar pelas minhas ideias deslocando-as para o organismo onde estava e para o meio do Partido Comunista, nomeadamente numa reunião ampla com o Álvaro de Cunhal. Aí as posições do Carlos Antunes já eram muito fortes em relação a esta via para a luta armada tendo acabado por se afastar do partido”. Foi então, nesta sequência e com esta convicção forte, que os dois regressam a Portugal - o Carlos Antunes de forma clandestina - e formam as Brigadas Revolucionárias.

As ações das Brigadas Revolucionárias foram, sobretudo, “contra a Guerra Colonial, em estruturas militares, focando as bases de armamento. A primeira foi numa estrutura da NATO, na Fonte da Telha, depois foi nos camiões berliet, em centros militares, quartéis”, lembra a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo. A médica endocrinologista reaviva ainda uma ação realizada pelas Brigadas Revolucionárias no Ministério das Corporações (antigo Ministério do Trabalho), na Praça de Londres, e relacionada com as condições do trabalho: “eu fui lá localizar o sítio onde se podia colocar a bomba, entrei pelo Ministério como se não fosse nada comigo e escolhi o local”. A última ação das Brigadas Revolucionárias foi pouco tempo antes do 25 de abril ten¬do estado uma ação planeada para maio que já não chegou a acontecer dada a queda do regime.

Prisão política

Num clima de grande repressão como o que era vivido no nosso país, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo, ainda antes do 25 de abril, acaba por ser presa pela PIDE. “Na primeira vez em que estive presa, o pior foi o isolamento, que é terrível. A cela tinha uma janela, mas a janela dava para um muro e em cima do muro passeava um soldado. Tiravam tudo às pessoas, inclusivamente o relógio, não sabemos a que horas estamos, não há livros, não há nada. Para mim, foi terrível”.

Na segunda vez, a prisão surge na sequência do assassinato pela PIDE do estudante universitário Ribeiro Santos, em 1972, numa reunião contra o colonialismo nas instalações de “Económicas” - atualmente Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). “Isto foi um acontecimento brutal ao nível estudantil. Foi uma questão muito forte e fizemos na Ordem dos Médicos um comunicado a constatar o que tinha acontecido. Fomos todos que decidimos e redigimos, 29 pessoas, mas fui eu que fiz o manuscrito. A PIDE assaltou a Ordem dos Médicos, revistou tudo e encontrou o meu manuscrito, identificou a minha letra e eu fui presa”. No momento da prisão a médica endocrinologista recorda que “ia com a minha filha ao colo para a levar ao jardim escola e apareceram. Entreguei a minha filha ao pai e fui com eles”. Todos os envolvidos na elaboração do manuscrito foram interrogados, no entanto, após ler os interrogatórios, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo constatou “que ninguém me denunciou e eu acho isto uma maravilha, fico muito contente. Mesmo com o medo que tinham, e tinham muito, disseram que tinha sido decidido por todos”. Dessa vez recorda que houve uma grande movimentação de apoio tendo o seu diretor do Hospital de Santa Maria, o Prof. Doutor Ducla Soares, ameaçado que ou a libertavam ou entravam em greve no Hospital, tendo sido libertada com o pagamento de uma caução.

O último período de prisão tem a duração de quatro anos e acontece em 1978. Lembra esse momento como “controverso porque não fui nem condenada, nem absolvida, nem perdoada, nem amnistiada. Simplesmente, ao fim de um certo tempo, puseram-me em liberdade por excesso de prisão preventiva. Quando fui buscar o registo criminal para voltar ao hospital não vinha nada escrito. Porque não existia nada, mas foram quatro anos”. Durante todo esse tempo em que esteve presa esteve acompanhada pelo filho que tinha, na altura em que foi presa, oito meses.

Após este período de prisão retomou então em força a atividade na Medicina, voltando ao Hospital de Santa Maria, fazendo consultório e dedicando-se ao doutoramento.

25 de abril de 1974

No por si tão aguardado dia em que cai a ditadura, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo estava na clandestinidade na sequência dos acontecimentos na Capela do Rato (uma ação de protesto e um momento marcante da contestação ao regime que ocorre em 1972) – “o meu nome foi falado e eu tive de ir para a clandestinidade”.

Assim, em 25 de abril de 1974, a médica endocrinologista está no Porto e recorda que foi “fantástico. Então para quem está clandestino é uma alegria poder voltar a fazer uma vida normal”. Conta que “tínhamos uma tipografia clandestina na Maia e era um camarada meu que fazia a ligação. Ele aparece na casa onde eu estava e diz «houve um golpe de Estado, um movimento militar e derrubaram o governo». Ainda estive umas horas no Porto, depois, no dia seguinte, vim para Lisboa. Fui escrever no comunicado que as ações armadas acabavam agora era a Liberdade!”

Depois do 25 de abril recorda que teve um ano e meio de intensa atividade política: “tinha um jornal semanário, o Revolução, de que eu era diretora, e andava na rua em manifestações. Foi um período extraordinário onde foi muito importante que as pessoas de baixo, os mais pobres, tivessem falado - esse é, para mim, o grande fenómeno daquele ano e meio após o 25 de abril: as pessoas ganharam dignidade, capacidade de serem gente”.

Em 2004, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo foi condecorada pelo Presidente da República Jorge Sampaio com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade, a mais alta condecoração atribuída aos cidadãos que contribuíram para democratizar Portugal.

O papel da escrita

Além do ativismo político, a vida da Prof.ª Doutora Isabel do Carmo tem também sido preenchida pela escrita, sendo autora de inúmeros livros. Nesta conversa, destaca quatro sobre três temas distintos: Nutrição, COVID-19 e política.

“Alimentação: mitos e fatos” e “Gorduchos e redondinhas” estiveram este ano na Feira do Livro de Lisboa. O primeiro, de 2020, surge mesmo depois de a endocrinologista decidir “que não ia escrever mais sobre Medicina e Nutrição porque as pessoas são tão permeáveis aos disparates que veem na internet que já questiono o meu papel, mas depois achei que era um dever”. Assim, foi escrito durante a pandemia e aborda um tema que desperta bastante interesse para a médica “que é desmontar o pensamento mágico que existe na internet, em que correm pensamentos pseudo-científicos, sem qualquer base, a dizerem o que fazem bem ou mal e, muitas vezes, com publicidade oculta a alguns suplementos naturais”. “Gorduchos e re-dondinhas”, de 2012, foi escrito em colaboração com várias pessoas com as quais a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo tinha a Plataforma de Luta Contra a Obesidade da DGS e centra-se na obesidade infantil e juvenil. “Vejo que na Feira do Livro as pessoas têm uma certa relutância em comprar este livro. Talvez por ser “Gorduchos e redondinhas” não querem assumir que os filhos são gorduchos e redondinhos”, brinca.

Em outubro de 2023, é lançado o livro “Síndrome do Covid Longo”. A médica endocrinologista relata ter sido “muito tocada” por esta doença, além de a própria ter tido, motivo pelo qual esteve internada, o seu ex-marido e outro amigo muito próximo morreram pela infeção por COVID-19. “Cerca de duas semanas depois de ter alta comecei a dar consultas e comecei a ver pessoas com aquilo que hoje é designado como Covid longo. Sob o ponto de vista de explicação fisiopatológica é muito interessante porque explicado está, mas medicação não há. E há muitas pessoas que se queixam de sintomas que são enquadrados nisto. Li muito para fazer este livro, fi-lo com prefácio do Prof. Doutor Filipe Froes, e espero que tenha sido útil pelo menos para as pessoas pensarem que não são um caso anormal”.

“Três Ditaduras na Europa Ocidental. Histórias de vida até 1974” é o mais recente livro publicado pela especialista, em março deste ano. “Este é um livro que eu tinha necessidade de fazer. Levei cerca de cinco anos a fazê-lo porque tem uma parte sobre Portugal, outra sobre Espanha e outra sobre a Grécia. Trabalhei muito para fazer isto porque coordenar três autores é complicado. Estudei muito a respeito das ditaduras, mas sentia-me na obrigação de o fazer”. É um livro que através de entrevistas a pessoas nascidas nos anos 40/50 retrata a vida nestes três países durante a ditadura.

A paixão longa pela Medicina

“Nunca me desliguei da profissão porque, verdadeiramente, eu gosto de ser médica”, afirma a médica endocrinologista que conta que “mesmo no período revolucionário, em que andava na rua, eu ia fazer uma vez por semana consulta ao Barreiro”. Também durante os períodos de clandestinidade os livros técnicos de Medicina acompanharam-na: “umas das últimas casas onde eu estive deixei lá o livro do Cecil, que era a nossa “bíblia” e no outro dia houve uma colega minha que mo veio trazer ao consultório. E quando estive presa em Custóias também houve o pai de um colega meu - que era uma pessoa de direita e que na Ordem dos Médicos se tinha oposto muito a nós - que me enviou, desta vez, o livro do Harrison”. Também na prisão, sempre que necessário intervinha como médica.

“Gosto de ver doentes. Continuo a ver muitos por semana e acho que se deixasse de ver doentes perdia a minha fonte de inspiração, perdia muito se deixasse de os ouvir”, conclui a especialista.

Assista ao vídeo da entrevista

A Menarini esteve aqui

“Cuidado! Monstros à solta” no Congresso da SPEDM

Foi no início do mês de fevereiro, entre os dias 1 e 4, que decorreu, no Centro de Congressos do Algarve, o Congresso Português de Endocrinologia 2024 - uma organização da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). Em conjunto com os profissionais de saúde, a

equipa da Menarini Portugal mostrou estar preparada para “caçar o monstro da diabetes”. Veja aqui alguns dos melhores momentos da participação da Menarini no Congresso da SPEDM: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=3H2Om1eT_qo&feature=youtu.be

A presença da MeetEndo

Sendo este um evento de referência na especialidade, acompanhámos os principais tópicos que foram discutidos no Congresso Português de Endocrinologia 2024 pedindo a alguns dos intervenientes que destacassem as mensagens chave das suas apresentações. Reveja aqui todos estes conteúdos: https://meetendo.pt/congresso-spedm




A não perder

XII Congresso de Cirurgia de Obesidade e Doenças Metabólicas

19 e 20 de setembro de 2024

Ílhavo

18.aReunião Anual do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus (NEDM) da SPMI

25 e 26 de outubro de 2024

Porto

28.as Jornadas de Endocrinologia e Diabetes de Coimbra

8 de novembro de 2024

Coimbra

Dia Mundial da Diabetes

14 de novembro de 2024

I Jornadas de Endocrinologia e Nutrição da ULSGE

15 de novembro de 2024

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Equipa

REDAÇÃO:

Andreia Pinto
Cátia Jorge
Rita Rodrigues

FOTOGRAFIA E VIDEO:

João Ferrão
Tiago Gonçalves

DESIGN:

Diogo Silva

APOIO

Editorial

MeetEndo, pelos corredores da Endocrinologia Portuguesa

Cátia Jorge
Jornalista Editora Raio-X

Nesta segunda edição da MeetEndo, fomos recebidos no Serviço de Endocrinologia da Unidade Local de Saúde Gaia e Espinho para conhecer o trabalho da equipa liderada pela Dr.ª Maria João Oliveira. O que começou por ser uma pequena unidade constituída por apenas três especialistas em Endocrinologia, é hoje um Serviço robusto, do qual fazem parte nove endocrinologistas, e onde não falta o importante apoio da Enfermagem e da Nutrição. Atualmente capaz de dar resposta a todas as áreas da patologia endócrina, o Serviço tem já um espaço físico dentro do hospital e orgulha-se de não ter lista de espera, conseguindo dar resposta a situações urgentes em tempo útil. Venha connosco nesta visita e conheça alguns dos elementos desta equipa dinâmica e motivada para fazer a diferença na vida dos doentes da margem sul do Douro.

Fora do consultório, é com grande orgulho que, no ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril, damos voz à Prof.ª Isabel do Carmo, que conciliou os seus estudos e a sua atividade clínica em Endocrinologia com a construção da liberdade pelas suas próprias mãos. De todos conhecida pelo ativismo político, a especialista conta alguns dos episódios mais marcantes da era pré e pós-revolução, desde os períodos que passou na prisão, às perseguições da PIDE. Entre lutas e contestações, é uma mulher da revolução, mas também da ciência. Leia até ao fim e deixe-se comover com as palavras da Prof.ª Isabel do Carmo.

Encerramos esta edição com um regresso ao Congresso da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, que decorreu em Vilamoura no início de fevereiro passado. A Menarini fez uma verdadeira “caça ao monstro da diabetes”.

Endocrinologia somos nós

“Pessoas excecionais e muito bem preparadas” são uma das marcas do Serviço de Endocrinologia da ULS Gaia e Espinho

Dr.ª Maria João Oliveira
Diretora do Serviço de Endocrinologia da ULSGE

Foi em janeiro de 2010 que a Dr.ª Maria João Oliveira entrou no serviço de Endocrinologia da ULS Gaia e Espinho (ULSGE). A atual diretora do serviço recordou à MeetEndo alguns dos passos importantes que têm sido dados e que permitem que, atualmente, nas suas palavras, este seja um serviço que consegue “dar resposta a todas as áreas da patologia endócrina”.

Inicialmente, a Endocrinologia surgiu neste hospital como uma unidade, uma vez que eram menos de três os especialistas desta área. O número de elementos foi crescendo e, no presente, são já nove os médicos endocrinologistas que integram este serviço. “Na altura em que vim também não tínhamos um espaço próprio”, recorda a Dr.ª Maria João Oliveira que, no ano seguinte à sua chegada, conseguiu que fosse atribuído um espaço à Endocrinologia. Ainda sobre o período da sua chegada ao serviço, a especialista lembra que “se fazia, essencialmente, obesidade, diabetes e pouco mais” pelo que se dedicou ao desenvolvimento de outras áreas: “não fazia sentido termos uma abrangência tão grande e, por exemplo, os doentes com patologia hipofisária estarem a ser referenciados para o Hospital de Santo António, quando podiam ser tratados aqui”.

Foi assim que se iniciou o processo de diferenciação deste serviço, sendo que também fez parte “explicar aos enfermeiros que a Endocrinologia era muito para além da diabetes. E a equipa de enfermagem gostou imenso e começou a entrar também noutras patologias, o que é essencial dado termos muitas outras doenças que precisam imenso da abordagem também por parte da enfermagem. O mesmo aconteceu com a equipa de Nutrição - começaram a ver que não era só o doente com obesidade ou com diabetes que precisava dos cuidados desta especialidade, mas também outros doentes como, por exemplo, as patologias da hipófise, os déficits de cálcio, o hipoparatiroidismo”.

A realização de biopsias da tiroide pelo serviço – que antes tinham de ser realizadas pela Imagiologia e, muitas vezes, até fora do hospital – e a obtenção da idoneidade formativa foram outros dois marcos importantes neste crescimento assinalados pela Dr.ª Maria João Oliveira.

Atualmente, o tempo de resposta é, para a sua diretora, a principal mais-valia do serviço: “conseguimos cumprir perfeitamente os prazos da consulta - quatro meses para a consulta não urgente, dois meses para a consulta urgente e um mês para a consulta muito urgente. Portanto, isso é uma mais-valia do serviço, nós não temos lista de espera, conseguimos cumprir os prazos”.











































Dr. Gustavo Rocha

Em outubro de 2014, o Dr. Gustavo Rocha completa, igualmente, 14 anos deste serviço. O endocrinologista recorda como tem sido este percurso: “tem sido uma experiência muito gratificante e pude presenciar algo que muitos colegas não puderam – quando vim para cá éramos poucos elementos, não tínhamos instalações próprias, gabinetes ou sala de reuniões. Mas, com a capacidade de trabalho e a organização da Dr.ª Maria João Oliveira, fomos conquistando esses meios”. Com uma vasta área de referenciação, que ronda os 700 mil utentes, “neste serviço, temos a oportunidade de ver muitos doentes e com uma patologia muito diversificada e aqui temos todos os meios necessários para fazer o devido acompanhamento”, reforça o especialista. Acrescenta ainda que, nos dias de hoje, este é um serviço “muito reconhecido em algumas áreas, das quais destaco a patologia da tiroide. Temos muitas pessoas dedicadas a esta área, nomeadamente a técnicas na tiroide – ecografia, citologia de nódulos tiroideus e tratamento com álcool de quistos tiroideus - que são poucos os centros no país que fazem e que poupam os doentes de cirurgia”.

Dr. Henrique Alexandrino

Também o Dr. Henrique Alexandrino, interno de 4.º ano neste serviço, reforça que o “nosso ex-líbris é, sem dúvida, a patologia tiroideia e paratiroideia, temos uma grande diferenciação e formação em tudo o que envolve a tiroide e paratiroide, quer de diagnóstico, quer de tratamento. Temos também uma componente forte no que diz respeito ao pé diabético e temos desenvolvido outras áreas com a criação de novas consultas ao nível da hipófise, mas também ao nível da diabetes, das novas tecnologias, que são o futuro”.

Dr.ª Patrícia Tavares

Abordagem do doente diabético

Além das consultas mais gerais, são igualmente disponibilizadas pelo serviço algumas mais especificas, nomeadamente, na área da diabetes. A consulta de tecnologias é um desses exemplos.

A Dr.ª Patrícia Tavares, que integra o serviço desde 2014, tendo sido a primeira interna, é uma das especialistas que se dedica a esta área das novas tecnologias da diabetes. O serviço é também um centro de colocação de bombas infusoras de insulina e a endocrinologista explica que sentiram a necessidade de criar esta consulta uma vez que “a tecnologia ajuda muito os doentes e os profissionais, mas é preciso tempo para analisar todos os dados que essa tecnologia nos dispensa. Esta é uma forma de otimizarmos a utilização destes recursos, permitindo um melhor controlo glicémico dos doentes”. Além da Endocrinologia, a consulta funciona com a presença de um nutricionista e de um enfermeiro, rentabilizando também, desta forma, o tempo do doente. “Estes são doentes que precisam de uma abordagem mais global e com mais calma”, reforça a diretora do serviço a propósito desta consulta.

Já anterior à chegada da Dr.ª Maria João Oliveira ao serviço é a consulta de pé diabético, tendo apenas sido reorganizada. Atualmente, o serviço tem três consultas de pé diabético por semana decorrendo, numa dessas vezes, de forma multidisciplinar com a presença da Ortopedia, da Cirurgia Vascular e da Medicina Interna. Nas outras duas vezes, a consulta é realizada apenas pela Endocrinologia com o apoio da enfermagem “para uma primeira abordagem da úlcera do diabético e também para dar resposta ao doente que não precisa de cuidados mais avançados pela Ortopedia ou que não tem patologia vascular grave e, portanto, nós conseguimos seguir e tratar a úlcera sem as outras duas especialidades”, explica a diretora do serviço.

Dr.ª Ana Sousa

Quanto ao futuro nesta área da abordagem ao pé diabético, a Dr.ª Ana Sousa, que há 10 anos integra esta equipa, refere que gostaria que o serviço tivesse “não só acesso às novas formas de tratamento, mas também a mais podologistas”. Este é um desejo igualmente manifestado pela diretora do serviço – “ter uma podologista a tempo inteiro é fundamental. E, além disto, temos o projeto de aumentar em mais dois dias por semana a consulta do pé diabético, ou seja, que todos os dias exista esta consulta”. A Dr.ª Ana Sousa aproveita ainda para fazer uma reflexão sobre como tem sido trabalhar neste serviço nos últimos dez anos e que está “muito diferente do que era quando entrei. Cobrimos uma área geográfica muito grande e éramos poucos elementos, portanto era um desafio em termos de números de consultas e capacidade de dar resposta”.

No que diz respeito à abordagem do doente diabético, a Dr.ª Patricia Tavares reforça também as ações que são desenvolvidas diretamente junto da população – “no âmbito do Dia Mundial da Diabetes, todos os anos tentamos fazer algo. Já fizemos caminhadas, sessões de exercícios, já distribuímos flyers na sala de espera sobre recomendações básicas para melhorar a diabetes, por exemplo”.

Consultas de sub-especialidade

“Uma consulta que dá uma resposta rápida, na qual o doente vem e, se tiver alguma patologia nodular, faz a biopsia aspirativa no próprio dia - muitas vezes nem necessitando de ser novamente avaliado. Desde que o resultado seja benigno e o nódulo não seja muito volumoso, conseguimos encaminhar logo o doente com os resultados para os Cuidados de Saúde Primários”, é assim que a Dr.ª Maria João Oliveira define a consulta de tiroide realizada na ULSGE. Acrescenta que, nesta consulta, “fazemos também drenagem de quistos tiroideus e o tratamento com etanol de quistos tiroideus com esclerose. É uma consulta que dá uma resposta muito rápida à patologia nodular da tiroide, mas também fazemos ecografias das paratiroides. Por exemplo, às vezes vêm doentes do exterior com patologias da paratiroide, em que as ecografias não dão qualquer resultado e nós repetimos sempre aqui, porque temos muito bons resultados e, geralmente, conseguimos sempre encontrar as paratiroides suspeitas”.

Uma outra consulta – criada logo no início da Dr.ª Maria João Oliveira no serviço – é a consulta de grupo de patologia endócrina. Funciona uma vez por semana, em conjunto com a Cirurgia Geral e também com o apoio da Medicina Nuclear. Esta consulta “segue os doentes com cancro da tiroide, suprarrenal ou das paratiroides e, para além disso, também avalia todos os doentes que necessitam de fazer cirurgia”, explica a diretora do serviço.

É também num contexto multidisciplinar que decorre a consulta de patologia hipofisária. É uma consulta de grupo que inclui a Neurocirurgia e o apoio da Neurorradiologia, em que “uma vez por mês, avaliamos doentes ou com tumores da hipófise, ou doentes que consideramos que têm indicação para cirurgia e, portanto, os apresentamos à Neurocirurgia”.

Enf.ª Isaura Duarte

Em 2024, a oferta do serviço foi reforçada - surgiu a consulta multidisciplinar de tumores neuroendócrinos. “Esta é uma patologia mais rara dentro das patologias da Endocrinologia, mas com uma incidência crescente e com um comportamento complexo, daí a importância de ser multidisciplinar”, refere o Dr. Gustavo Rocha, responsável por esta criação. A Endocrinologia, a Radiologia, a Oncologia Médica, a Gastroenterologia e a Medicina Nuclear são as especialidades envolvidas nesta consulta que ocorre com uma periodicidade quinzenal. “Qualquer uma destas especialidades pode trazer os seus doentes que precisam de ser discutidos para se tomarem decisões, quer no que diz respeito a exames de seguimento, quer a terapêuticas”. Para o futuro nesta área, o endocrinologista revela existir o desejo, por parte do diretor do departamento de Medicina, “de criar uma clínica de tumores neuroendócrinos no hospital cujo objetivo é facilitar o percurso destes doentes não perdendo tempo e otimizando a utilização dos recursos em relação aos meios auxiliares de diagnóstico e ao tratamento. Portanto, apesar de ser uma consulta que ainda está a ser organizada, vai ter uma estrutura muito sólida e vamos ter um fluxograma de ação perante esta patologia”.

Dr. Nuno Jesus

Todas estas consultas multidisciplinares são, para a Dr.ª Maria João Oliveira, também uma vantagem do serviço: “são muito importantes porque a abordagem multidisciplinar do doente, hoje em dia, é fundamental, nomeadamente no campo da diabetes, com a abordagem simultânea por parte da educação, da enfermagem e da nutrição, mas também no campo de todas aquelas patologias que necessitam de cuidados cirúrgicos, como a patologia da tiroide, as paratiroides, as supra-renais”.

De referir ainda a realização, pela equipa deste serviço, de uma consulta na Unidade 3 em Espinho – “não é uma consulta especifica, mas é uma forma de dar resposta aos doentes de lá evitando que tenham de se deslocar”, refere a Dr.ª Maria João Oliveira. Para o Dr. Nuno Jesus, interno de 3.º ano, esta deslocação “acaba por ser também uma experiência muito enriquecedo-ra porque contactamos com novas realidades e com desafios diferentes. É bastante positiva para mim, enquanto interno, mas também para o doente porque acabamos por ter uma oferta de uma consulta especializada de uma forma mais próxima”.

A consulta da patologia endócrina na grávida já existia no serviço antes da chegada da atual diretora, tendo sido desenvolvida de forma a poder dar resposta a todas as grávidas que tenham este tipo de patologias. Neste caso, são os elementos do serviço de Endocrinologia que se deslocam à consulta de Obstetrícia para poderem fazer esta observação das doentes.

O serviço não dispõe de internamento próprio recorrendo ao serviço de gestão de camas da ULSGE quando necessitam de internar algum doente. Para a diretora do serviço isto permite que se “aprenda a gerir doentes em ambulatório”. “Claro que há descompensações agudas que necessitam obrigatoriamente de internamento, mas, tirando isso, conseguimos gerir praticamente tudo em ambulatório”. A existência do Hospital de Dia da Endocrinologia também permite que “acabemos por internar menos doentes porque os conseguimos gerir durante o dia aqui”, explica a Dr.ª Maria João Oliveira.

Dr.ª Carla Guerra

Equipa

Relativamente à equipa do seu serviço, a Dr.ª Maria João Oliveira destaca ser constituída por “pessoas excecionais, muito bem preparadas, muito trabalhadoras e todos gostamos de trabalhar em grupo”.

Além dos elementos médicos, a diretora de serviço foca também a qualidade da equipa de enfermagem “que é espetacular e que se adapta a todas as situações o que, por vezes, não é fácil”. O serviço de Endocrinologia tem cinco enfermeiras que se dedicam exclusivamente a esta área, sendo esta uma grande vantagem por permitir a especialização. “Quando vim para o serviço eram dedicadas quase exclusivamente à diabetes, neste momento, fazem terapêuticas para tumores hipofisários, explicam ao doente o que se está a passar, fazem prevenção de crises adrenais, ajudam nas citologias da tiroide e nas escleroses com etanol dos quistos tiroideus. Portanto, adaptaram-se a tudo o que aqui fazemos e diferenciaram-se”, refere a Dr.ª Maria João Oliveira. A Enf.ª Isaura Duarte reforça que um dos principais desafios no seu trabalho, precisamente de forma a conseguir desempenhar todas estas funções, é o “termos de estar sempre atualizadas, sendo necessário fazer muita formação”. Em relação ao futuro, para a enfermeira que há 20 anos integra este serviço, “seria fundamental termos mais elementos. Nestes 20 anos houve uma evolução imensa, mas temos de continuar a crescer. Quanto mais gente capacitada e motivada para esta área tivermos, melhor será a forma de tratarmos os nossos doentes”. Desde 2018 no serviço, onde fez o seu internato, a Dr.ª Sara Correia reforça que aqui existe “um ambiente muito bom. As pessoas fazem muita diferença num serviço”. O facto de existir uma equipa de enfermagem dedicada em exclusivo à Endocrinologia e a existência de um hospital de dia integrado no próprio serviço, para a especialista, fazem toda a diferença e criam bastante proximidade.

A diretora do serviço menciona ainda a vantagem que é o serviço poder contar com a colaboração estreita com uma equipa de três nutricionistas. A Dr.ª Carla Guerra é uma dessas nutricionistas e refere que esta é “uma excelente articulação. Trabalhamos em conjunto com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos doentes – principalmente dos doentes diabéticos e obesos. Há uma partilha de informação e trabalhamos de forma multidisciplinar”.

As pessoas que o constituem são, também para o Dr. Diogo Ramalho, uma das principais mais valias deste serviço: “os nossos pares são pessoas muito abertas, altruístas, e que nos dão muito conhecimento prático. Isto é muito importante quando temos pessoas que têm uma enorme experiência clínica, que observam muitos doentes com patologias muito diversificadas. Vemos uma grande panóplia de patologias e, portanto, somos confrontados todos os dias com novos desafios e aprendemos todos os dias”.

Ainda no âmbito da equipa, a parte admi¬nistrativa e as assistentes operacionais não são deixadas de fora pela Dr.ª Maria João Oliveira, que foca a sua importância e conclui que todos os elementos – incluindo os cargos não clínicos – formam ali “uma mini família”.

Dr.ª Sara Correia

Internato

O Dr. Gustavo Rocha é, atualmente, o responsável pela área do internato complementar. Para o especialista, é fundamental para um serviço esta componente da idoneidade formativa e refere que “temos tido muita sorte com os colegas que têm escolhido este serviço para fazer a sua formação porque são pessoas muito dinâmicas. Isto obriga-nos também a sermos mais dinâmicos e a não estagnarmos, a termos ideias e estudarmos. Eles fazem muita produção científica, que também dá nome à instituição e ao serviço e, desde muito cedo, começam também a sua atividade clínica de forma autónoma, sempre com um especialista que está ali por perto, claro, para o caso de ser necessário. Acho que têm uma formação bastante sólida e que estamos a formar bons clínicos”.

A promoção da investigação científica a par da prática clínica é também referida pela Dr.ª Sara Correia acerca da sua experiência de internato aqui, reforçando ainda a vantagem “de ser um serviço em que vemos várias formas de trabalhar, em que existem patologias muito diversificadas e um grupo de internos muito coeso”. Já para o Dr. Nuno Jesus, “a possibilidade de sermos um hospital de fim de linha em muitas especialidades e, então, termos aqui muitas especialidades que colaboram connosco e que estão disponíveis para nos ajudar a gerir os desafios que nos vão aparecer na consulta” representa uma das mais-valias da formação neste serviço.

Neste aspeto da formação dos internos, a diretora do serviço destaca que depois do primeiro ano que é feito na Medicina Interna, nos três anos seguintes, que são passados na Endocrinologia, “gosto que o vão fazer noutros serviços, é muito bom para terem outras perspetivas”. É o caso do Dr. Henrique Alexandrino que, no seu quarto ano de internato, foca “que o percurso tem sido bom. Tem-me sido dada a possibilidade de fazer os estágios que pretendo, passar por diversas áreas - há essa abertura e possibilidade. Fazemos também o nosso próprio percurso o que é ótimo”.

Dr. Diogo Ramalho

Articulação com os CSP

No que diz respeito à articulação entre o serviço e os Cuidados de Saúde Primários (CSP), a Dr.ª Maria João Oliveira refere ter esperança de que, com a criação da recém ULSGE, esta seja reforçada. “Quando vim para cá, uma das coisas que me propus fazer foi consultoria nos centros de saúde. Depois, com a pandemia por COVID-19 isso terminou e não foi reiniciado ainda”, esclarece a diretora de serviço acrescentando que agora a utilização das ferramentas de videochamada “são uma boa opção para reiniciarmos a consultoria”. Há também um telemóvel do serviço que está sempre disponível e que pode ser usado para os CSP entrarem em contacto, “por vezes, com dúvidas que podem ser resolvidas na altura, outras vezes para dizerem que nos vão referenciar algum doente grave”.

Um projeto que está previsto arrancar brevemente e que vai funcionar em articulação com os CSP é a Clínica da Diabetes. Para a Dr.ª Maria João Oliveira, houve já uma grande evolução nos cuidados prestados ao nível primário, “mas ainda temos que evoluir para trabalharmos mais em conjunto. Muitas vezes não se justifica, de forma alguma, um doente vir ao hospital para fazer um penso, ou para tirar uma calosidade, mas isso pode ser fundamental para aquele pé e, por isso, essa abordagem tem que ser mesmo bem feita nos cuidados primários”.

A Clínica da Tiroide é outra iniciativa cuja implementação está prevista e que foi também um dos planos para a formação da ULSGE. Para a diretora do serviço, estas clínicas são importantes pois “permitem uma abordagem mais rápida do doente e, além disso, um dos objetivos fundamentais é o de trabalhar para o bem-estar do doente”.

Futuro do serviço

Além de todos estes projetos já referidos, no futuro, a Dr.ª Maria João Oliveira gostaria também de otimizar o apoio prestado ao serviço de urgência. De acordo com a endocrinologista, isto passa por ter “todos os dias, 12 horas, um endocrinologista para fazer apoio rápido ao serviço de urgência e ao internamento. No entanto, isto implica não fazermos tantas consultas externas, pelo que tem tudo de ser muito bem programado”.

No final, a diretora do serviço deixa ainda um desafio à participação num novo projeto: este ano vão acontecer, no dia 15 de novembro, no hotel EXE Praia Golfe Hotel, em Espinho, as 1.as Jornadas de Endocrinologia e Nutrição da ULS Gaia Espinho. “Os temas são variados, para além da diabetes - porque o evento é uma parte integrante das celebrações do Dia Mundial da Diabetes 2024 - iremos falar sobre obesidade e sarcopenia, abordagem de feridas do pé diabético, exercício físico na comunidade, metabolismo ósseo e osteoporose, patologia da tiroide. Iremos também ter um espaço para a apresentação de trabalhos”. “Todos serão bem vindos”, conclui a diretora do serviço lançando o apelo.

ULSGE: o serviço pela voz da diretora

A perspetiva da equipa

Fora do consultório

Prof.ª Doutora Isabel do Carmo: Uma vida dedicada à Medicina e à luta pela Liberdade

Prof.ª Doutora Isabel do Carmo

Foi na sua casa, em Lisboa, que a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo nos recebeu para partilhar connosco algumas memórias marcantes do seu percurso. Hoje, 50 anos após o 25 de abril, a médica endocrinologista recordou os tempos enquanto ativista política na luta contra a ditadura – atividade que conciliou sempre com a prática profissional - “nunca me desliguei da profissão porque, verdadeiramente, gosto de ser médica”, partilha.

O facto de ter nascido no Barreiro (no ano de 1940), é o ponto de partida para esta história pois este “era um meio muito contra o regime do Estado Novo, tal como a família que me rodeava”, conta a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo. Aos 10 anos, pela inexistência de liceus na cidade onde nasceu, vai para Setúbal, onde estuda durante cinco anos “na única turma mista a nível nacional, mas em todo o distrito de Setúbal não havia alunos suficientes para fazer duas turmas”, recorda. A este período somaram-se dois anos no Liceu Maria Amália, em Lisboa, onde completou o antigo 7.º ano. É depois disto, com 17 anos, que ingressa na Faculdade de Medicina de Lisboa. Sobre esse período recorda que, na altura, “não havia especialidade de Endocrinologia, quem queria fazer esta especialidade fazia os dois anos do internato e depois entrava para Medicina Interna. Isto tem influência na minha atitude atual em relação aos doentes porque os vejo também muito numa perspetiva de Medicina Interna”.

É na Faculdade de Medicina que se liga à Comissão Pró-Associação de Medicina – a Associação tinha sido fechada pela PIDE. Este era “um grupo grande, aberto e onde conheci pessoas que foram amigos para a vida e de quem ainda hoje sou amiga” e é também neste período, aos 18 anos, em 1958, que integra o Partido Comunista Português (PCP).

As Brigadas Revolucionárias

Um marco importante na sua ação política foi a criação das Brigadas Revolucionárias, em 1973. A primeira organização com uma mulher na direção. Nesta conversa, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo relembra qual o contexto que se vivia na altura e os motivos que conduziram à criação desta organização: “em 1969, quando já estava no PCP, formaram-se as Comissões Democráticas Eleitorais, aproveitando o período de liberdade eleitoral para concorrer às eleições legislativas e onde houve muitas comissões e grande troca de ideias”. No entanto, apesar deste clima de aparente abertura política, “chegámos às eleições e, mais uma vez, foi uma falcatrua e não aconteceu nada. Havia já a convicção profunda nas pessoas que lutavam contra o regime, e mesmo nas outras, de que não era possível alterá-lo em termos eleitorais. Dentro do PCP havia uma grande pressão para existirem ações armadas e que só dessa forma poderíamos derrubar o regime”, recorda a endocrinologista acrescentando que a isto se somava o contexto da Guerra Colonial que decorria já há oito anos e “sem qualquer perspetiva de acabar”.

É em 1970, quando está em Paris a realizar um estágio, que conhece o Carlos Antunes – funcionário do PCP e com quem viria a formar as Brigadas Revolucionárias. “Eu insisti muito na ideia de que era necessária a ação armada e, a certa altura, o Carlos Antunes deixou-se infiltrar pelas minhas ideias deslocando-as para o organismo onde estava e para o meio do Partido Comunista, nomeadamente numa reunião ampla com o Álvaro de Cunhal. Aí as posições do Carlos Antunes já eram muito fortes em relação a esta via para a luta armada tendo acabado por se afastar do partido”. Foi então, nesta sequência e com esta convicção forte, que os dois regressam a Portugal - o Carlos Antunes de forma clandestina - e formam as Brigadas Revolucionárias.

As ações das Brigadas Revolucionárias foram, sobretudo, “contra a Guerra Colonial, em estruturas militares, focando as bases de armamento. A primeira foi numa estrutura da NATO, na Fonte da Telha, depois foi nos camiões berliet, em centros militares, quartéis”, lembra a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo. A médica endocrinologista reaviva ainda uma ação realizada pelas Brigadas Revolucionárias no Ministério das Corporações (antigo Ministério do Trabalho), na Praça de Londres, e relacionada com as condições do trabalho: “eu fui lá localizar o sítio onde se podia colocar a bomba, entrei pelo Ministério como se não fosse nada comigo e escolhi o local”. A última ação das Brigadas Revolucionárias foi pouco tempo antes do 25 de abril ten¬do estado uma ação planeada para maio que já não chegou a acontecer dada a queda do regime.

Prisão política

Num clima de grande repressão como o que era vivido no nosso país, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo, ainda antes do 25 de abril, acaba por ser presa pela PIDE. “Na primeira vez em que estive presa, o pior foi o isolamento, que é terrível. A cela tinha uma janela, mas a janela dava para um muro e em cima do muro passeava um soldado. Tiravam tudo às pessoas, inclusivamente o relógio, não sabemos a que horas estamos, não há livros, não há nada. Para mim, foi terrível”.

Na segunda vez, a prisão surge na sequência do assassinato pela PIDE do estudante universitário Ribeiro Santos, em 1972, numa reunião contra o colonialismo nas instalações de “Económicas” - atualmente Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). “Isto foi um acontecimento brutal ao nível estudantil. Foi uma questão muito forte e fizemos na Ordem dos Médicos um comunicado a constatar o que tinha acontecido. Fomos todos que decidimos e redigimos, 29 pessoas, mas fui eu que fiz o manuscrito. A PIDE assaltou a Ordem dos Médicos, revistou tudo e encontrou o meu manuscrito, identificou a minha letra e eu fui presa”. No momento da prisão a médica endocrinologista recorda que “ia com a minha filha ao colo para a levar ao jardim escola e apareceram. Entreguei a minha filha ao pai e fui com eles”. Todos os envolvidos na elaboração do manuscrito foram interrogados, no entanto, após ler os interrogatórios, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo constatou “que ninguém me denunciou e eu acho isto uma maravilha, fico muito contente. Mesmo com o medo que tinham, e tinham muito, disseram que tinha sido decidido por todos”. Dessa vez recorda que houve uma grande movimentação de apoio tendo o seu diretor do Hospital de Santa Maria, o Prof. Doutor Ducla Soares, ameaçado que ou a libertavam ou entravam em greve no Hospital, tendo sido libertada com o pagamento de uma caução.

O último período de prisão tem a duração de quatro anos e acontece em 1978. Lembra esse momento como “controverso porque não fui nem condenada, nem absolvida, nem perdoada, nem amnistiada. Simplesmente, ao fim de um certo tempo, puseram-me em liberdade por excesso de prisão preventiva. Quando fui buscar o registo criminal para voltar ao hospital não vinha nada escrito. Porque não existia nada, mas foram quatro anos”. Durante todo esse tempo em que esteve presa esteve acompanhada pelo filho que tinha, na altura em que foi presa, oito meses.

Após este período de prisão retomou então em força a atividade na Medicina, voltando ao Hospital de Santa Maria, fazendo consultório e dedicando-se ao doutoramento.

25 de abril de 1974

No por si tão aguardado dia em que cai a ditadura, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo estava na clandestinidade na sequência dos acontecimentos na Capela do Rato (uma ação de protesto e um momento marcante da contestação ao regime que ocorre em 1972) – “o meu nome foi falado e eu tive de ir para a clandestinidade”.

Assim, em 25 de abril de 1974, a médica endocrinologista está no Porto e recorda que foi “fantástico. Então para quem está clandestino é uma alegria poder voltar a fazer uma vida normal”. Conta que “tínhamos uma tipografia clandestina na Maia e era um camarada meu que fazia a ligação. Ele aparece na casa onde eu estava e diz «houve um golpe de Estado, um movimento militar e derrubaram o governo». Ainda estive umas horas no Porto, depois, no dia seguinte, vim para Lisboa. Fui escrever no comunicado que as ações armadas acabavam agora era a Liberdade!”

Depois do 25 de abril recorda que teve um ano e meio de intensa atividade política: “tinha um jornal semanário, o Revolução, de que eu era diretora, e andava na rua em manifestações. Foi um período extraordinário onde foi muito importante que as pessoas de baixo, os mais pobres, tivessem falado - esse é, para mim, o grande fenómeno daquele ano e meio após o 25 de abril: as pessoas ganharam dignidade, capacidade de serem gente”.

Em 2004, a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo foi condecorada pelo Presidente da República Jorge Sampaio com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade, a mais alta condecoração atribuída aos cidadãos que contribuíram para democratizar Portugal.

O papel da escrita

Além do ativismo político, a vida da Prof.ª Doutora Isabel do Carmo tem também sido preenchida pela escrita, sendo autora de inúmeros livros. Nesta conversa, destaca quatro sobre três temas distintos: Nutrição, COVID-19 e política.

“Alimentação: mitos e fatos” e “Gorduchos e redondinhas” estiveram este ano na Feira do Livro de Lisboa. O primeiro, de 2020, surge mesmo depois de a endocrinologista decidir “que não ia escrever mais sobre Medicina e Nutrição porque as pessoas são tão permeáveis aos disparates que veem na internet que já questiono o meu papel, mas depois achei que era um dever”. Assim, foi escrito durante a pandemia e aborda um tema que desperta bastante interesse para a médica “que é desmontar o pensamento mágico que existe na internet, em que correm pensamentos pseudo-científicos, sem qualquer base, a dizerem o que fazem bem ou mal e, muitas vezes, com publicidade oculta a alguns suplementos naturais”. “Gorduchos e re-dondinhas”, de 2012, foi escrito em colaboração com várias pessoas com as quais a Prof.ª Doutora Isabel do Carmo tinha a Plataforma de Luta Contra a Obesidade da DGS e centra-se na obesidade infantil e juvenil. “Vejo que na Feira do Livro as pessoas têm uma certa relutância em comprar este livro. Talvez por ser “Gorduchos e redondinhas” não querem assumir que os filhos são gorduchos e redondinhos”, brinca.

Em outubro de 2023, é lançado o livro “Síndrome do Covid Longo”. A médica endocrinologista relata ter sido “muito tocada” por esta doença, além de a própria ter tido, motivo pelo qual esteve internada, o seu ex-marido e outro amigo muito próximo morreram pela infeção por COVID-19. “Cerca de duas semanas depois de ter alta comecei a dar consultas e comecei a ver pessoas com aquilo que hoje é designado como Covid longo. Sob o ponto de vista de explicação fisiopatológica é muito interessante porque explicado está, mas medicação não há. E há muitas pessoas que se queixam de sintomas que são enquadrados nisto. Li muito para fazer este livro, fi-lo com prefácio do Prof. Doutor Filipe Froes, e espero que tenha sido útil pelo menos para as pessoas pensarem que não são um caso anormal”.

“Três Ditaduras na Europa Ocidental. Histórias de vida até 1974” é o mais recente livro publicado pela especialista, em março deste ano. “Este é um livro que eu tinha necessidade de fazer. Levei cerca de cinco anos a fazê-lo porque tem uma parte sobre Portugal, outra sobre Espanha e outra sobre a Grécia. Trabalhei muito para fazer isto porque coordenar três autores é complicado. Estudei muito a respeito das ditaduras, mas sentia-me na obrigação de o fazer”. É um livro que através de entrevistas a pessoas nascidas nos anos 40/50 retrata a vida nestes três países durante a ditadura.

A paixão longa pela Medicina

“Nunca me desliguei da profissão porque, verdadeiramente, eu gosto de ser médica”, afirma a médica endocrinologista que conta que “mesmo no período revolucionário, em que andava na rua, eu ia fazer uma vez por semana consulta ao Barreiro”. Também durante os períodos de clandestinidade os livros técnicos de Medicina acompanharam-na: “umas das últimas casas onde eu estive deixei lá o livro do Cecil, que era a nossa “bíblia” e no outro dia houve uma colega minha que mo veio trazer ao consultório. E quando estive presa em Custóias também houve o pai de um colega meu - que era uma pessoa de direita e que na Ordem dos Médicos se tinha oposto muito a nós - que me enviou, desta vez, o livro do Harrison”. Também na prisão, sempre que necessário intervinha como médica.

“Gosto de ver doentes. Continuo a ver muitos por semana e acho que se deixasse de ver doentes perdia a minha fonte de inspiração, perdia muito se deixasse de os ouvir”, conclui a especialista.




































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A Menarini esteve aqui

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Foi no início do mês de fevereiro, entre os dias 1 e 4, que decorreu, no Centro de Congressos do Algarve, o Congresso Português de Endocrinologia 2024 - uma organização da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). Em conjunto com os profissionais de saúde, a equipa da Menarini Portugal mostrou estar preparada para “caçar o monstro da diabetes”. Veja aqui alguns dos melhores momentos da participação da Menarini no Congresso da SPEDM: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=3H2Om1eT_qo&feature=youtu.be

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Sendo este um evento de referência na especialidade, acompanhámos os principais tópicos que foram discutidos no Congresso Português de Endocrinologia 2024 pedindo a alguns dos intervenientes que destacassem as mensagens chave das suas apresentações. Reveja aqui todos estes conteúdos: https://meetendo.pt/congresso-spedm

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