Editorial
MeetEndo, pelos corredores da Endocrinologia Portuguesa
Cátia Jorge
Jornalista Editora Raio-X
Falar sobre doenças endócrinas implica abrir um vasto leque de mecanismos fisiopatológicos que estão na origem de distúrbios hormonais que vão desde a diabetes às alterações da tiroide, passando pela obesidade ou pelos tumores endócrinos. No seu conjunto, falamos de doenças com um enorme impacto epidemiológico, para o qual contribuem, sobretudo, a obesidade e a diabetes tipo 2, fruto dos atuais estilos de vida e do tipo de alimentação ocidental que temos vindo a adotar. Mas não é de doença que pretendemos falar nesta newsletter. MeetEndo é um espaço de partilha do que melhor se faz nos serviços de Endocrinologia do nosso Serviço Nacional de Saúde, mas também nos Centros de Saúde e Unidades de Saúde Familiares que são, quase sempre, a porta por onde entram os doentes. Exemplos de multidisciplinaridade, de articulação entre vários níveis de cuidados e entre serviços de especialidades parceiras serão aqui reportados pela voz dos seus principais protagonistas. Edição após edição, faremos o retrato dos corredores e consultórios e das principais valências de cada uma das unidades.
Resultante de uma parceria entre o Raio-X e a Menarini Portugal, esta é uma newsletter sobre Endocrinologia para Endocrinologistas e para todos os que estão envolvidos na abordagem das doenças endócrinas.
Nesta edição inaugural da MeetEndo, viajámos até ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, mais concretamente no Hospital Padre Américo, onde fomos tão bem recebidos pela Dr.ª Margarida Almeida e pela sua equipa. Criado em 2003, o serviço de Endocrinologia conta com profissionais muito jovens e dinâmicos que prestam serviço a uma população de cerca de 504 mil habitantes.
Também nesta edição, apresentamos a faceta não clínica do reconhecido Prof. Doutor Davide Carvalho. Quando não está a dar consultas, a participar em congressos ou em atividades formativas, o endocrinologista do Porto dedica o seu tempo à família e à prática de atividade física. É o exemplo de um médico que aplica na sua vida as recomendações que faz aos seus doentes. Recebeu a equipa de reportagem da MeetEndo num dos seus treinos de voleibol, ao final do dia, e conversou sobre esta paixão que, de alguma forma, complementa a sua atividade profissional.
Embarque connosco nesta visita à Endocrinologia e prepare-se para, em breve, ter o retrato do seu serviço numa próxima edição da MeetEndo.
Endocrinologia somos nós
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS): o processo de crescimento e diferenciação
Dr.ª Margarida Almeida
Diretora do Serviço de Endocrinologia do CHTS
A viagem da MeetEndo pelos serviços de Endocrinologia do país começou a Norte, mais concretamente em Penafiel, no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS). Foi no Hospital Padre Américo que a Dr.ª Margarida Almeida, diretora do serviço de Endocrinologia, e a sua equipa nos receberam e partilharam connosco o percurso percorrido desde 2003 (ano em que a atual diretora entrou neste hospital) até aos dias de hoje.
Apesar de ter sido formalmente constituído em 2018, a história do serviço de Endocrinologia do CHTS tem de ser contada a partir de 2003, ano em que a Dr.ª Margarida Almeida iniciou funções no Hospital Padre Américo. “Entrei em junho de 2003, integrada inicialmente no Departamento de Medicina, sendo esta a data em que a valência de Endocrinologia começou a existir aqui no CHTS, e gradualmente fui abarcando várias áreas da especialidade, essencialmente em consulta. Fui muito bem recebida por todos e havia uma grande necessidade nesta instituição que tem uma dimensão tão grande e que serve uma população tão vasta: 504 mil pessoas”, recorda a diretora do serviço.
Até 2011 a Dr.ª Margarida Almeida foi o único elemento neste serviço entrando, neste ano, a Dr.ª Mariana Martinho. “Estivemos apenas as duas durante um longo período de tempo depois, em 2016, entrou a Dr.ª Susana Garrido, que atualmente já não está neste serviço, mas que foi um contributo importantíssimo, com ideias novas”. Com esta equipa, na altura, foi então possível expandir o número de consultas e respetivas áreas, tendo então culminando na formação oficial do serviço, em fevereiro de 2018. “Desde aí tem sido sempre a crescer. À medida que um serviço cresce ganha mais elementos e também se torna mais apetecível por conseguir abarcar mais áreas, atraindo mais elementos”, constata a médica endocrinologista.
Neste momento, o corpo clínico do serviço de Endocrinologia do CHTS conta com oito elementos, aos quais se juntam três internos de especialidade. Sobre a sua equipa, a Dr.ª Margarida Almeida destaca o facto de ser “jovem e dinâmica, com muita vontade de trabalhar e com um excelente ambiente, o que constitui uma mais-valia para o serviço”. Integram também o serviço a equipa de enfermagem, a equipa de auxiliares de ação médica e os funcionários administrativos da consulta externa.
O facto de ser constituído por elementos de diferentes pontos do país, com formação noutros locais, é também algo que a atual diretora de serviço destaca como muito positivo e que contribui para o crescimento. É esta constituição atual que permite a oferta de diversas consultas diferenciadas e várias áreas de envolvimento do serviço, além da Endocrinologia geral.
Dr.ª Alexandra Araújo
Sobre o serviço que integra desde 2022, a Dr.ª Alexandra Araújo destaca que “este serviço exerce a sua atividade assistencial em algumas áreas gerais e nobres da Endocrinologia (como a consulta de diabetes ou a consulta de Endocrinologia geral). No entanto, tem vindo a diferenciar-se e a organizar consultas de subespecialidade e multidisciplinares para que o acompanhamento e tratamento dos doentes esteja a par dos desenvolvimentos científicos das áreas em questão”.
Consulta de sistemas de perfusão subcutânea contínua de insulina
O CHTS é, desde 2017, um dos 28 centros de referência de colocação de bombas de insulina contando, atualmente, com 109 doentes em tratamento com estes dispositivos, 57 deles adultos.
“Prevê-se que a consulta de bombas de insulina seja uma das áreas em forte expansão no serviço nos próximos anos, sendo já longo o caminho traçado desde a colocação da primeira bomba, em 2011”, refere a Dr.ª Catarina Pereira, responsável por esta consulta. A médica endocrinologista explica que “com o surgimento dos novos dispositivos híbridos, espera-se uma melhoria franca não só da qualidade de vida destes doentes, mas também do seu controlo glicémico. Dada a recente aprovação da generalização do tratamento com estes dispositivos a todos os doentes com diabetes tipo 1, esperamos, nos próximos anos, não só substituir todas as bombas por estas semiautomáticas, como aumentar substancialmente o número de doentes em tratamento com estes sistemas”.
Esta consulta é também realizada pela Dr.ª Vânia Gomes e ambas são apoiadas por uma equipa de enfermagem, com duas enfermeiras dedicadas em exclusivo a esta área. Para a especialista em Endocrinologia, que integra o serviço desde 2022, o futuro passará por “conseguir implementar as novas bombas disponíveis no SNS e continuar a dar uma boa resposta aos nossos doentes. Temos muitos doentes com diabetes de tipo 1 na nossa área de abrangência. Todos os anos recebemos muitos doentes da consulta de transição da Pediatria, portanto, esta é uma área que prevejo que vá aumentar muito nos próximos anos e vamos melhorar a nossa resposta a esta população”.
Consulta multidisciplinar de patologia endócrina na gravidez
A consulta de patologia endócrina na gravidez é, para a Dr.ª Margarida Almeida, “uma vertente importante do serviço”. A Dr.ª Alexandra Araújo dedica parte da sua atividade a esta consulta que “decorre simultaneamente na presença de um endocrinologista e um obstetra e que permite o seguimento e vigilância regular de grávidas com diabetes gestacional, diabetes prévia, disfunções tiroideias e outras doenças endócrinas mais raras que possam afetar as mulheres grávidas”.
Também exerce funções nesta valência a Dr.ª Ana Saavedra. A médica endocrinologista, no serviço desde 2023, acrescenta que “ainda no âmbito desta consulta, ficam englobadas as reavaliações pós-parto da diabetes gestacional. Neste caso, e após realização dos exames laboratoriais indicados, as consultas decorrem numa modalidade não presencial. Nesta etapa do seguimento a telemedicina surge como um meio facilitador da orientação no pós-parto”. Esta consulta é também realizada por mais três elementos do serviço de Endocrinologia do CHTS: a Dr.ª Vânia Gomes, a Dr.ª Vânia Benido e a Dr.ª Claúdia Machado.
Dr. Filipe Cunha
Consulta de tratamento cirúrgico da obesidade
Também classificada como “muito relevante” pela diretora de serviço, é a consulta de tratamento cirúrgico da obesidade.
Desde 2019 que o CHTS é centro de tratamento cirúrgico da obesidade, participando “na consulta de avaliação multidisciplinar para o tratamento cirúrgico da obesidade e tendo um papel preponderante na avaliação e aprovação destes doentes para a cirurgia bariátrica, assim como na gestão das comorbilidades associadas a esta doença”, refere a Dr.ª Margarida Almeida. A consulta de cirurgia bariátrica é realizada no Hospital de São Gonçalo, em Amarante, onde todas as terças-feiras estão dois elementos deste serviço: o Dr. Filipe Cunha e a Dr.ª Catarina Pereira.
O Dr. Filipe Cunha, no serviço desde 2018, explica que, neste hospital, “as avaliações pré-operatórias são todas realizadas no mesmo dia. O doente é visto, inicialmente, pela cirurgia - que verifica se cumpre os critérios básicos para seguir o processo - e, na mesma tarde, é visto pela Endocrinologia, pela Nutrição, pela Psiquiatria e pela Psicologia”. Após a cirurgia há também um acompanhamento pela Endocrinologia para deteção e prevenção de complicações como as carências nutricionais que podem surgir.
Consulta multidisciplinar de patologia autoimune
“A consulta multidisciplinar de patologia autoimune foi criada pelo Dr. Carlos Vasconcelos, médico internista especialista em doenças autoimunes e tem a representação de diversas especialidades para a discussão de casos de doentes com este tipo de patologias”, explica a Dr.ª Cláudia Machado – endocrinologista responsável pela representação da especialidade nesta consulta. Além da discussão do caso pelas várias especialidades, são ainda discutidas as opções terapêuticas, pelo que conta também com a presença do serviço de farmácia.
Consulta de Oncologia Tiroideia
Vocacionada para o tratamento e seguimento pós-cirúrgico de doentes submetidos a cirurgia da tiroide e cujo diagnóstico final se enquadre em cancro da tiroide, foi criada pelo serviço a consulta de oncologia tiroideia. A Dr.ª Alexandra Araújo dedica também parte da sua atividade a esta consulta especializada e explica que “esta consulta funciona em associação a uma reunião multidisciplinar quinzenal de patologia oncológica da tiroide, realizada entre endocrinologistas e cirurgiões e onde, além dos tratamentos pós cirúrgicos, são também discutidos e decididos os planos de tratamento pré-cirúrgicos dos doentes mais complexos”. A médica endocrinologista destacou ainda que existe a possibilidade de discussão e decisão terapêutica partilhada entre o serviço de Endocrinologia e o de Medicina Nuclear do IPO Porto, onde alguns dos doentes são submetidos a tratamentos diferenciados, voltando posteriormente, na sua maioria, ao seguimento habitual no CHTS.
Consulta multidisciplinar de Endocrinologia pediátrica
A Dr.ª Margarida Almeida recorda que, antes da sua entrada para o hospital, “quando recebíamos crianças com diabetes de tipo 1 eram automaticamente enviadas para um hospital central. Então, nessa altura, comecei a ver as crianças, iniciava as terapêuticas insulínicas e, lentamente, fomos criando uma consulta de Endocrinologia pediátrica”. Uma área pela qual a diretora do serviço assume ter um gosto particular, mas que “por limitações de recursos, foram duas colegas da Pediatria que depois continuaram o projeto”. No entanto, recorda este como um passo muito importante e que permitiu que as crianças não tivessem de se deslocar até ao Porto para serem tratadas. Nesta valência existe mensalmente uma consulta multidisciplinar com a presença da Dr.ª Vânia Gomes e da Dr.ª Carla Brandão e onde são discutidos alguns casos clínicos.
Ecografia e citologia aspirativa por agulha fina da tiroide
Considerando a ecografia da tiroide como o exame de imagem de primeira linha na investigação da patologia estrutural desta glândula, com um papel determinante na seleção de nódulos com indicação para estudo citológico, para a Dr.ª Vânia Silva, “a execução deste exame por um endocrinologista torna-o ainda mais meticuloso, pela capacidade de integração de elementos de ordem clínica (fatores de risco pessoais e familiares para malignidade), elementos laboratoriais ou imagiológicos (como estudo com cintigrafia), que podem modificar a decisão de prosseguir a investigação de determinada lesão”.
Também a citologia ecoguiada da tiroide é realizada pelo próprio serviço. Facto que, para a Dr.ª Alexandra Araújo,“permite identificar, sem atrasos, os doentes com necessidade de tratamento cirúrgico. A sua execução dentro do serviço, realizada de forma regular desde 2022, permite uma sinalização e preparação dos doentes para cirurgia de uma forma estruturada e célere”.
“Esta é uma área que tínhamos muito como objetivo concretizar com a entrada de novos elementos no serviço”, refere a Dr.ª Margarida Almeida. No serviço de Endocrinologia do CHTS, a realização de ecografia da tiroide e citologia aspirativa por agulha fina de nódulos tiroideus decorre com uma periodicidade semanal e é da responsabilidade de uma equipa médica constituída pela Dr.ª Vânia Silva, pela Dr.ª Alexandra Araújo e pelo Dr. Filipe Cunha.
Dr.ª Vânia Gomes
Internamento hospitalar
“Até maio de 2020 os nossos doentes eram internados no serviço da Medicina Interna, sob a nossa responsabilidade. A partir desta data começámos a ter camas atribuídas, neste momento temos duas”, refere a Dr.ª Vânia Gomes que destaca ainda a “mais valia para o serviço desta possibilidade de ter os doentes a seu cargo permitindo-nos prestar um cuidado mais próximo. Sempre que necessário contamos também com o apoio de outras especialidades.”
A diretora do serviço acrescenta que, como é normal na Endocrinologia ,“aqui, o internamento tem uma alta rotatividade, o doente permanece pouco tempo na cama, mas temos também uma elevada taxa de ocupação”.
Quanto aos principais motivos de internamento neste serviço, a Dr.ª Vânia Gomes refere a “cetoacidose diabética e hipocalcemia” destacando que, no ano de 2021 existiram 10 internamentos e, em 2022, 31 internamentos.
Esta vertente assistencial e de apoio ao internamento “a par da vertente de ambulatório, constitui uma grande parte do trabalho deste serviço”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
Dr.ª Bruna Silva
Internato médico
Em 2017 foi concedida a idoneidade formativa parcial ao serviço de Endocrinologia do CHTS, “desafio que abraçámos com muito entusiasmo”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
A diretora do serviço não tem dúvidas da importância que tem esta idoneidade formativa, “pela credibilidade que confere ao serviço, mas também porque os internos são sempre uma fonte de inovação, de procura, de conhecimento e de atualização. Naturalmente, obriga-nos a estarmos permanentemente atualizados, é um fator de motivação para todos os especialistas”. De acordo com a Dr.ª Margarida Almeida, a própria investigação científica realizada pelo serviço é favorecida pela presença de internos: “esta presença vai favorecer a necessidade de apresentação de casos”.
A Dr.ª Bruna Silva (juntamente com a Dr.ª Ana Catarina Chaves e a Dr.ª Catarina Rodrigues) é uma das internas que, atualmente, integram este serviço. Há um ano no serviço e no seu segundo de internato, destacou o quão “desafiante é a experiência de internato neste serviço. É um hospital periférico e que abrange um grande número de utentes, pelo que vemos também várias patologias”. Salienta ainda que “o facto de sermos poucos internos dá-nos uma maior possibilidade de participar ativamente em atividades como as ecografias e citologias e podermos assistir a um maior número de consultas”. A futura especialista destaca ainda nesta experiência a existência de “uma equipa que acolhe muito bem, jovem, proativa, com expertise em vários tipos de áreas o que é essencial para o nosso serviço”.
Em janeiro de 2024, o serviço vai receber mais um interno de especialidade.
Articulação com os Cuidados de Saúde Primários
“Temos uma excelente articulação com os Cuidados de Saúde Primários (CSP)”, refere a Dr.ª Margarida Almeida. Desde 2006 que o serviço recebe internos de Medicina Geral e Familiar para estágios de formação, atividade que, nas palavras da diretora do serviço, “promove uma proximidade muito grande, tanto de contacto pessoal, como institucional, em que fazemos uma boa parceria. Ligam muitas vezes para o telemóvel que temos de serviço, que está sempre disponível para o esclarecimento de dúvidas, evitando assim muitas deslocações”.
Os Cuidados de Saúde Primários constituem os principais referenciadores de doentes para os serviços hospitalares existindo critérios claros de referenciação, “que foram elaborados em conjunto com os CSP e que definem quais os casos que nos devem enviar, facilitando, assim, todo o processo”. No caso das situações que precisam de uma abordagem mais urgente o contacto é feito através do telemóvel de serviço ou por via pessoal.
Também por diversas vezes, no âmbito do Dia Mundial da Diabetes, o serviço associou-se aos CSP para a realização de eventos de sensibilização dirigidos à população e cujo objetivo é “alertar para as questões da saúde e para a importância da prevenção”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
Teleconsultoria e teleconsulta
Ainda nesta articulação com os CSP, a teleconsultoria é um dos projetos que este serviço tem projetado para o futuro. Para a Dr.ª Margarida Almeida esta “é uma opção muito interessante, pois permite selecionar alguns casos clínicos, mediante um consentimento informado, para uma consulta na qual o especialista em Medicina Geral e Familiar apresenta o caso ao especialista para que este seja discutido e evitando a necessidade de deslocação”.
A teleconsulta é também já uma realidade neste serviço. “A especialidade, pela sua componente analítica de avaliação de exames, propicia isto. Assim, uma vez que o nosso sistema informático o permite, fazemos a teleconsulta com o doente que, normalmente, adere muito bem a essa modalidade, especialmente os mais jovens, claro”, destaca a diretora do serviço.
Dr.ª Cláudia Machado
Para a Dr.ª Cláudia Machado, esta modalidade é um dos aspetos que considera pertinente o serviço continuar a apostar no futuro para permitir “estar mais junto dos que precisam e ter mais celeridade na marcação de primeiras consultas”. Algo também reforçado pela Dr.ª Margarida Almeida que vê na teleconsulta “uma forma de aliviar uma limitação que temos no nosso trabalho: a necessidade de mais espaço físico”. A médica endocrinologista reforça que “até mesmo a nível do controlo glicémico dos doentes, será muito mais fácil o acompanhamento destes doentes. Pelo que acredito que esta é uma vertente que teremos, necessariamente, de desenvolver.
Jornadas de Endocrinologia e Diabetes do CHTS
A 14 de novembro de 2023 o serviço organizou as III Jornadas de Endocrinologia e Diabetes, e esta é também uma atividade não assistencial que promove a articulação entre o hospital e os CSP e que pretende contribuir para o progresso da Endocrinologia regional. No entanto, “apesar de dirigidas essencialmente para esta região, tivemos apresentação de trabalhos científicos de todo o país”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
Esta foi uma iniciativa que iniciou em 2018, mas que esteve interrompida por causa da pandemia por COVID-19. Este ano contou com a participação de 180 inscritos e, pela primeira vez, realizou-se no Dia Mundial da Diabetes e, nesse âmbito, “tivemos também um componente educativo, dirigido à população para aumentar a consciencialização acerca da doença”.
Perspetivar o futuro
Para o futuro do serviço, a Dr.ª Margarida Almeida gostaria de assistir ao seu crescimento. Nas suas palavras, “a população que temos é uma mais-valia, temos uma área tão vasta que permite, seguramente, uma ampliação do serviço e o envolvimento de outras áreas”. A diretora do serviço refere também a abertura que existe por parte da administração para o acolhimento de novos projetos e “o excelente contacto que temos com as outras especialidades – apesar das dimensões considero um hospital familiar, com um bom intercâmbio”.
Embora o objetivo seja sempre de crescimento, a Dr.ª Alexandra Araújo destaca que este “é um serviço que há dois anos tinha uma dimensão mais reduzida e hoje já tem vários especialistas. É uma equipa jovem que está a tentar diferenciar o serviço em várias áreas, a crescer. É desafiador e entusiasmante para os elementos mais novos”.
“Desde a sua constituição, o serviço de Endocrinologia do CHTS passou por diferentes etapas, com várias mudanças na sua constituição. O crescimento do corpo clínico permitiu alargar a atividade assistencial, reduzir a lista de espera e desenvolver novos projetos de diferenciação em várias áreas”, recorda a diretora do serviço. Para a Dr.ª Margarida Almeida este foi “um caminho longo. Mas só tenho consciência de que foi realmente longo quando faço esta retrospetiva”.
CHTS: o serviço pela voz da diretora
Fora do consultório
Prof. Doutor Davide Carvalho: um percurso notável na Endocrinologia associado à práticade uma modalidade desportiva
Prof. Doutor Davide Carvalho
Conhecer a Endocrinologia é também saber mais sobre os profissionais que se dedicam a esta especialidade e, por isso, nesta primeira edição da MeetEndo, fomos conhecer a faceta não clínica do Prof. Doutor Davide Carvalho. A par de um percurso notável na prática e ensino desta especialidade, o atual presidente da European NeuroEndocrine Association, pratica, há mais de 20 anos, voleibol. O médico endocrinologista recebeu-nos no treino da sua equipa que decorre semanalmente na Escola Básica Maria Manuela Sá, em São Mamede de Infesta.
Foi no final da década de 90 que o Prof. Doutor Davide Carvalho integrou os “Turbolentos”, nome da equipa que foi criada para participar nos Jogos Médicos. “Os Jogos Médicos eram uma atividade que se realizava habitualmente na semana anterior à Páscoa, normalmente em Troia, e que englobava múltiplas atividades como futebol, andebol, voleibol, ténis de mesa e até matraquilhos. Este era um evento de grande convívio e confraternização e que despertava bastante interesse - chegou a ter 22 equipas de voleibol inscritas numa das edições”, recorda o médico endocrinologista.
Jogador de basquete na adolescência, no Académico do Porto, foi com a sua mudança para São Mamede de Infesta que o anterior diretor do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) começou a prática desta modalidade: “os meus filhos começaram a jogar voleibol na Académica de São Mamede e, entretanto, soube que havia esta equipa e foi assim que comecei a praticar”. Neste momento, além dos filhos - com a filha a receber o título de campeã nacional de veteranas em 2022 - também a neta do Prof. Doutor Davide Carvalho pratica a modalidade, tendo também sido, recentemente, campeã regional de voleibol.
Constituída por elementos de diferentes categorias profissionais ligadas à saúde, “como médicos de várias especialidades, enfermeiros, delegados de informação médica”, os Turbolentos treinam uma vez por semana, às 22:00, no pavilhão da Escola Básica Maria Manuela Sá, existindo sempre o esforço de “conseguir conciliar a atividade física com a atividade profissional”, refere o especialista.
A vertente da prática de exercício físico é, para o Prof. Doutor Davide Carvalho, algo muito importante e que sempre aconselhou também aos seus doentes: “na área da Endocrinologia, nomeadamente na obesidade ou diabetes, é fundamental. A prática pelos profissionais de saúde ajuda a transmitir ao doente esta importância, é uma experiência vivida, o que acho bastante positivo. Além deste treino semanal tento fazer, pelo menos, 10 mil passos diários”. No caso concreto do voleibol, o endocrinologista considera ser “uma modalidade desportiva muito exigente, mas que pode ser praticada por pessoas mais velhas, mesmo que não tenham grandes competências do ponto de vista técnico”. O atual presidente da European NeuroEndocrine Association (ENEA), cargo assumido em 2024 e com mandato durante os próximos quatro anos, refere que “acabo por transmitir também lá fora esta ideia de que a atividade física é muito importante para o tratamento e para o bem-estar global dos doentes”.
Relativamente ao contributo que a prática desta modalidade tem na sua atividade profissional, o Prof. Doutor Davide Carvalho refere que “a Medicina é uma área muito exigente do ponto de vista profissional, pelo estudo, pela atualização e na prática clínica. Assim, ter momentos de lazer, com outras atividades, ajuda-nos a relaxar e, eventualmente, estarmos mais concentrados na atividade profissional. Acho que isto é o mais importante e é isto que eu e os meus colegas procuramos aqui”.
MeetEndo: “uma newsletter que nos dá outra visão”
Questionado sobre a pertinência que a MeetEndo tem para a Endocrinologia, o Prof. Davide Carvalho refere que esta newsletter vai, “seguramente, contribuir para um melhor conhecimento de todos os serviços do país, o que é uma boa ideia uma vez que acabamos por estar, muitas vezes, fechados nos nossos serviços”.
“A reportagem nos serviços permite-nos ter uma perspetiva de como é que estão organizados, conhecer as pessoas e ver, também, um pouco o outro lado para além da atividade científica - que nós avaliamos pelos artigos publicados e pelas apresentações. Acho que é importante termos, também, essa outra visão”, conclui o médico endocrinologista.
Prof. Doutor Davide Carvalho: a faceta não clínica
A Menarini esteve aqui
“The new and the old in diabetes”
A “Fondazione Internazionale Menarini” foi fundada na primavera de 1976 para promover a investigação e o conhecimento nas áreas da Biologia, Farmacologia e Medicina, mas também nas áreas da Economia e das Ciências Humanas.
Um dos principais instrumentos que a Fundação utiliza para atingir os seus objetivos é a organização de congressos internacionais em diversas áreas terapêuticas.
Desde 1976, a Fundação organizou mais de 600 conferências internacionais abordando temas médicos e biológicos
particularmente inovadores e de interesse específico para o mundo médico, com amplas implicações científicas e repercussões de natureza prática.
Entre os dias 30 de novembro e 1 de dezembro decorreu, em Barcelona, um evento totalmente dedicado à diabetes, com o tema “The new and the old in diabetes”, que contou com a participação de uma comitiva de médicos portugueses.
O evento contou com uma comissão científica de relevo, liderada pelo Prof. Stefano Del Prato de Sant’Anna School of Advanced Studies em Pisa.
Produção
Rua Herminia Silva nº8 Loja A
2620-535 Ramada, Portugal
geral@raiox.pt
www.raiox.pt
Equipa
REDAÇÃO:
Andreia Pinto
Cátia Jorge
Rita Rodrigues
FOTOGRAFIA E VIDEO:
João Ferrão
Tiago Gonçalves
DESIGN:
Diogo Silva
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Margarida Fatela
APOIO
Editorial
MeetEndo, pelos corredores da Endocrinologia Portuguesa
Cátia Jorge
Jornalista Editora Raio-X
Falar sobre doenças endócrinas implica abrir um vasto leque de mecanismos fisiopatológicos que estão na origem de distúrbios hormonais que vão desde a diabetes às alterações da tiroide, passando pela obesidade ou pelos tumores endócrinos. No seu conjunto, falamos de doenças com um enorme impacto epidemiológico, para o qual contribuem, sobretudo, a obesidade e a diabetes tipo 2, fruto dos atuais estilos de vida e do tipo de alimentação ocidental que temos vindo a adotar. Mas não é de doença que pretendemos falar nesta newsletter. MeetEndo é um espaço de partilha do que melhor se faz nos serviços de Endocrinologia do nosso Serviço Nacional de Saúde, mas também nos Centros de Saúde e Unidades de Saúde Familiares que são, quase sempre, a porta por onde entram os doentes. Exemplos de multidisciplinaridade, de articulação entre vários níveis de cuidados e entre serviços de especialidades parceiras serão aqui reportados pela voz dos seus principais protagonistas. Edição após edição, faremos o retrato dos corredores e consultórios e das principais valências de cada uma das unidades.
Resultante de uma parceria entre o Raio-X e a Menarini Portugal, esta é uma newsletter sobre Endocrinologia para Endocrinologistas e para todos os que estão envolvidos na abordagem das doenças endócrinas.
Nesta edição inaugural da MeetEndo, viajámos até ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, mais concretamente no Hospital Padre Américo, onde fomos tão bem recebidos pela Dr.ª Margarida Almeida e pela sua equipa. Criado em 2003, o serviço de Endocrinologia conta com profissionais muito jovens e dinâmicos que prestam serviço a uma população de cerca de 504 mil habitantes.
Também nesta edição, apresentamos a faceta não clínica do reconhecido Prof. Doutor Davide Carvalho. Quando não está a dar consultas, a participar em congressos ou em atividades formativas, o endocrinologista do Porto dedica o seu tempo à família e à prática de atividade física. É o exemplo de um médico que aplica na sua vida as recomendações que faz aos seus doentes. Recebeu a equipa de reportagem da MeetEndo num dos seus treinos de voleibol, ao final do dia, e conversou sobre esta paixão que, de alguma forma, complementa a sua atividade profissional.
Embarque connosco nesta visita à Endocrinologia e prepare-se para, em breve, ter o retrato do seu serviço numa próxima edição da MeetEndo.
Endocrinologia somos nós
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS): o processo de crescimento e diferenciação
Dr.ª Margarida Almeida
Diretora do Serviço de Endocrinologia do CHTS
A viagem da MeetEndo pelos serviços de Endocrinologia do país começou a Norte, mais concretamente em Penafiel, no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS). Foi no Hospital Padre Américo que a Dr.ª Margarida Almeida, diretora do serviço de Endocrinologia, e a sua equipa nos receberam e partilharam connosco o percurso percorrido desde 2003 (ano em que a atual diretora entrou neste hospital) até aos dias de hoje.
Apesar de ter sido formalmente constituído em 2018, a história do serviço de Endocrinologia do CHTS tem de ser contada a partir de 2003, ano em que a Dr.ª Margarida Almeida iniciou funções no Hospital Padre Américo. “Entrei em junho de 2003, integrada inicialmente no Departamento de Medicina, sendo esta a data em que a valência de Endocrinologia começou a existir aqui no CHTS, e gradualmente fui abarcando várias áreas da especialidade, essencialmente em consulta. Fui muito bem recebida por todos e havia uma grande necessidade nesta instituição que tem uma dimensão tão grande e que serve uma população tão vasta: 504 mil pessoas”, recorda a diretora do serviço.
Até 2011 a Dr.ª Margarida Almeida foi o único elemento neste serviço entrando, neste ano, a Dr.ª Mariana Martinho. “Estivemos apenas as duas durante um longo período de tempo depois, em 2016, entrou a Dr.ª Susana Garrido, que atualmente já não está neste serviço, mas que foi um contributo importantíssimo, com ideias novas”. Com esta equipa, na altura, foi então possível expandir o número de consultas e respetivas áreas, tendo então culminando na formação oficial do serviço, em fevereiro de 2018. “Desde aí tem sido sempre a crescer. À medida que um serviço cresce ganha mais elementos e também se torna mais apetecível por conseguir abarcar mais áreas, atraindo mais elementos”, constata a médica endocrinologista.
Neste momento, o corpo clínico do serviço de Endocrinologia do CHTS conta com oito elementos, aos quais se juntam três internos de especialidade. Sobre a sua equipa, a Dr.ª Margarida Almeida destaca o facto de ser “jovem e dinâmica, com muita vontade de trabalhar e com um excelente ambiente, o que constitui uma mais-valia para o serviço”. Integram também o serviço a equipa de enfermagem, a equipa de auxiliares de ação médica e os funcionários administrativos da consulta externa.
O facto de ser constituído por elementos de diferentes pontos do país, com formação noutros locais, é também algo que a atual diretora de serviço destaca como muito positivo e que contribui para o crescimento. É esta constituição atual que permite a oferta de diversas consultas diferenciadas e várias áreas de envolvimento do serviço, além da Endocrinologia geral.
Dr.ª Alexandra Araújo
Sobre o serviço que integra desde 2022, a Dr.ª Alexandra Araújo destaca que “este serviço exerce a sua atividade assistencial em algumas áreas gerais e nobres da Endocrinologia (como a consulta de diabetes ou a consulta de Endocrinologia geral). No entanto, tem vindo a diferenciar-se e a organizar consultas de subespecialidade e multidisciplinares para que o acompanhamento e tratamento dos doentes esteja a par dos desenvolvimentos científicos das áreas em questão”.
Consulta de sistemas de perfusão subcutânea contínua de insulina
O CHTS é, desde 2017, um dos 28 centros de referência de colocação de bombas de insulina contando, atualmente, com 109 doentes em tratamento com estes dispositivos, 57 deles adultos.
“Prevê-se que a consulta de bombas de insulina seja uma das áreas em forte expansão no serviço nos próximos anos, sendo já longo o caminho traçado desde a colocação da primeira bomba, em 2011”, refere a Dr.ª Catarina Pereira, responsável por esta consulta. A médica endocrinologista explica que “com o surgimento dos novos dispositivos híbridos, espera-se uma melhoria franca não só da qualidade de vida destes doentes, mas também do seu controlo glicémico. Dada a recente aprovação da generalização do tratamento com estes dispositivos a todos os doentes com diabetes tipo 1, esperamos, nos próximos anos, não só substituir todas as bombas por estas semiautomáticas, como aumentar substancialmente o número de doentes em tratamento com estes sistemas”.
Esta consulta é também realizada pela Dr.ª Vânia Gomes e ambas são apoiadas por uma equipa de enfermagem, com duas enfermeiras dedicadas em exclusivo a esta área. Para a especialista em Endocrinologia, que integra o serviço desde 2022, o futuro passará por “conseguir implementar as novas bombas disponíveis no SNS e continuar a dar uma boa resposta aos nossos doentes. Temos muitos doentes com diabetes de tipo 1 na nossa área de abrangência. Todos os anos recebemos muitos doentes da consulta de transição da Pediatria, portanto, esta é uma área que prevejo que vá aumentar muito nos próximos anos e vamos melhorar a nossa resposta a esta população”.
Consulta multidisciplinar de patologia endócrina na gravidez
A consulta de patologia endócrina na gravidez é, para a Dr.ª Margarida Almeida, “uma vertente importante do serviço”. A Dr.ª Alexandra Araújo dedica parte da sua atividade a esta consulta que “decorre simultaneamente na presença de um endocrinologista e um obstetra e que permite o seguimento e vigilância regular de grávidas com diabetes gestacional, diabetes prévia, disfunções tiroideias e outras doenças endócrinas mais raras que possam afetar as mulheres grávidas”.
Também exerce funções nesta valência a Dr.ª Ana Saavedra. A médica endocrinologista, no serviço desde 2023, acrescenta que “ainda no âmbito desta consulta, ficam englobadas as reavaliações pós-parto da diabetes gestacional. Neste caso, e após realização dos exames laboratoriais indicados, as consultas decorrem numa modalidade não presencial. Nesta etapa do seguimento a telemedicina surge como um meio facilitador da orientação no pós-parto”. Esta consulta é também realizada por mais três elementos do serviço de Endocrinologia do CHTS: a Dr.ª Vânia Gomes, a Dr.ª Vânia Benido e a Dr.ª Claúdia Machado.
Dr. Filipe Cunha
Consulta de tratamento cirúrgico da obesidade
Também classificada como “muito relevante” pela diretora de serviço, é a consulta de tratamento cirúrgico da obesidade.
Desde 2019 que o CHTS é centro de tratamento cirúrgico da obesidade, participando “na consulta de avaliação multidisciplinar para o tratamento cirúrgico da obesidade e tendo um papel preponderante na avaliação e aprovação destes doentes para a cirurgia bariátrica, assim como na gestão das comorbilidades associadas a esta doença”, refere a Dr.ª Margarida Almeida. A consulta de cirurgia bariátrica é realizada no Hospital de São Gonçalo, em Amarante, onde todas as terças-feiras estão dois elementos deste serviço: o Dr. Filipe Cunha e a Dr.ª Catarina Pereira.
O Dr. Filipe Cunha, no serviço desde 2018, explica que, neste hospital, “as avaliações pré-operatórias são todas realizadas no mesmo dia. O doente é visto, inicialmente, pela cirurgia - que verifica se cumpre os critérios básicos para seguir o processo - e, na mesma tarde, é visto pela Endocrinologia, pela Nutrição, pela Psiquiatria e pela Psicologia”. Após a cirurgia há também um acompanhamento pela Endocrinologia para deteção e prevenção de complicações como as carências nutricionais que podem surgir.
Consulta multidisciplinar de patologia autoimune
“A consulta multidisciplinar de patologia autoimune foi criada pelo Dr. Carlos Vasconcelos, médico internista especialista em doenças autoimunes e tem a representação de diversas especialidades para a discussão de casos de doentes com este tipo de patologias”, explica a Dr.ª Cláudia Machado – endocrinologista responsável pela representação da especialidade nesta consulta. Além da discussão do caso pelas várias especialidades, são ainda discutidas as opções terapêuticas, pelo que conta também com a presença do serviço de farmácia.
Consulta de Oncologia Tiroideia
Vocacionada para o tratamento e seguimento pós-cirúrgico de doentes submetidos a cirurgia da tiroide e cujo diagnóstico final se enquadre em cancro da tiroide, foi criada pelo serviço a consulta de oncologia tiroideia. A Dr.ª Alexandra Araújo dedica também parte da sua atividade a esta consulta especializada e explica que “esta consulta funciona em associação a uma reunião multidisciplinar quinzenal de patologia oncológica da tiroide, realizada entre endocrinologistas e cirurgiões e onde, além dos tratamentos pós cirúrgicos, são também discutidos e decididos os planos de tratamento pré-cirúrgicos dos doentes mais complexos”. A médica endocrinologista destacou ainda que existe a possibilidade de discussão e decisão terapêutica partilhada entre o serviço de Endocrinologia e o de Medicina Nuclear do IPO Porto, onde alguns dos doentes são submetidos a tratamentos diferenciados, voltando posteriormente, na sua maioria, ao seguimento habitual no CHTS.
Consulta multidisciplinar de Endocrinologia pediátrica
A Dr.ª Margarida Almeida recorda que, antes da sua entrada para o hospital, “quando recebíamos crianças com diabetes de tipo 1 eram automaticamente enviadas para um hospital central. Então, nessa altura, comecei a ver as crianças, iniciava as terapêuticas insulínicas e, lentamente, fomos criando uma consulta de Endocrinologia pediátrica”. Uma área pela qual a diretora do serviço assume ter um gosto particular, mas que “por limitações de recursos, foram duas colegas da Pediatria que depois continuaram o projeto”. No entanto, recorda este como um passo muito importante e que permitiu que as crianças não tivessem de se deslocar até ao Porto para serem tratadas. Nesta valência existe mensalmente uma consulta multidisciplinar com a presença da Dr.ª Vânia Gomes e da Dr.ª Carla Brandão e onde são discutidos alguns casos clínicos.
Ecografia e citologia aspirativa por agulha fina da tiroide
Considerando a ecografia da tiroide como o exame de imagem de primeira linha na investigação da patologia estrutural desta glândula, com um papel determinante na seleção de nódulos com indicação para estudo citológico, para a Dr.ª Vânia Silva, “a execução deste exame por um endocrinologista torna-o ainda mais meticuloso, pela capacidade de integração de elementos de ordem clínica (fatores de risco pessoais e familiares para malignidade), elementos laboratoriais ou imagiológicos (como estudo com cintigrafia), que podem modificar a decisão de prosseguir a investigação de determinada lesão”.
Também a citologia ecoguiada da tiroide é realizada pelo próprio serviço. Facto que, para a Dr.ª Alexandra Araújo,“permite identificar, sem atrasos, os doentes com necessidade de tratamento cirúrgico. A sua execução dentro do serviço, realizada de forma regular desde 2022, permite uma sinalização e preparação dos doentes para cirurgia de uma forma estruturada e célere”.
“Esta é uma área que tínhamos muito como objetivo concretizar com a entrada de novos elementos no serviço”, refere a Dr.ª Margarida Almeida. No serviço de Endocrinologia do CHTS, a realização de ecografia da tiroide e citologia aspirativa por agulha fina de nódulos tiroideus decorre com uma periodicidade semanal e é da responsabilidade de uma equipa médica constituída pela Dr.ª Vânia Silva, pela Dr.ª Alexandra Araújo e pelo Dr. Filipe Cunha.
Dr.ª Vânia Gomes
Internamento hospitalar
“Até maio de 2020 os nossos doentes eram internados no serviço da Medicina Interna, sob a nossa responsabilidade. A partir desta data começámos a ter camas atribuídas, neste momento temos duas”, refere a Dr.ª Vânia Gomes que destaca ainda a “mais valia para o serviço desta possibilidade de ter os doentes a seu cargo permitindo-nos prestar um cuidado mais próximo. Sempre que necessário contamos também com o apoio de outras especialidades.”
A diretora do serviço acrescenta que, como é normal na Endocrinologia ,“aqui, o internamento tem uma alta rotatividade, o doente permanece pouco tempo na cama, mas temos também uma elevada taxa de ocupação”.
Quanto aos principais motivos de internamento neste serviço, a Dr.ª Vânia Gomes refere a “cetoacidose diabética e hipocalcemia” destacando que, no ano de 2021 existiram 10 internamentos e, em 2022, 31 internamentos.
Esta vertente assistencial e de apoio ao internamento “a par da vertente de ambulatório, constitui uma grande parte do trabalho deste serviço”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
Dr.ª Bruna Silva
Internato médico
Em 2017 foi concedida a idoneidade formativa parcial ao serviço de Endocrinologia do CHTS, “desafio que abraçámos com muito entusiasmo”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
A diretora do serviço não tem dúvidas da importância que tem esta idoneidade formativa, “pela credibilidade que confere ao serviço, mas também porque os internos são sempre uma fonte de inovação, de procura, de conhecimento e de atualização. Naturalmente, obriga-nos a estarmos permanentemente atualizados, é um fator de motivação para todos os especialistas”. De acordo com a Dr.ª Margarida Almeida, a própria investigação científica realizada pelo serviço é favorecida pela presença de internos: “esta presença vai favorecer a necessidade de apresentação de casos”.
A Dr.ª Bruna Silva (juntamente com a Dr.ª Ana Catarina Chaves e a Dr.ª Catarina Rodrigues) é uma das internas que, atualmente, integram este serviço. Há um ano no serviço e no seu segundo de internato, destacou o quão “desafiante é a experiência de internato neste serviço. É um hospital periférico e que abrange um grande número de utentes, pelo que vemos também várias patologias”. Salienta ainda que “o facto de sermos poucos internos dá-nos uma maior possibilidade de participar ativamente em atividades como as ecografias e citologias e podermos assistir a um maior número de consultas”. A futura especialista destaca ainda nesta experiência a existência de “uma equipa que acolhe muito bem, jovem, proativa, com expertise em vários tipos de áreas o que é essencial para o nosso serviço”.
Em janeiro de 2024, o serviço vai receber mais um interno de especialidade.
Articulação com os Cuidados de Saúde Primários
“Temos uma excelente articulação com os Cuidados de Saúde Primários (CSP)”, refere a Dr.ª Margarida Almeida. Desde 2006 que o serviço recebe internos de Medicina Geral e Familiar para estágios de formação, atividade que, nas palavras da diretora do serviço, “promove uma proximidade muito grande, tanto de contacto pessoal, como institucional, em que fazemos uma boa parceria. Ligam muitas vezes para o telemóvel que temos de serviço, que está sempre disponível para o esclarecimento de dúvidas, evitando assim muitas deslocações”.
Os Cuidados de Saúde Primários constituem os principais referenciadores de doentes para os serviços hospitalares existindo critérios claros de referenciação, “que foram elaborados em conjunto com os CSP e que definem quais os casos que nos devem enviar, facilitando, assim, todo o processo”. No caso das situações que precisam de uma abordagem mais urgente o contacto é feito através do telemóvel de serviço ou por via pessoal.
Também por diversas vezes, no âmbito do Dia Mundial da Diabetes, o serviço associou-se aos CSP para a realização de eventos de sensibilização dirigidos à população e cujo objetivo é “alertar para as questões da saúde e para a importância da prevenção”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
Teleconsultoria e teleconsulta
Ainda nesta articulação com os CSP, a teleconsultoria é um dos projetos que este serviço tem projetado para o futuro. Para a Dr.ª Margarida Almeida esta “é uma opção muito interessante, pois permite selecionar alguns casos clínicos, mediante um consentimento informado, para uma consulta na qual o especialista em Medicina Geral e Familiar apresenta o caso ao especialista para que este seja discutido e evitando a necessidade de deslocação”.
A teleconsulta é também já uma realidade neste serviço. “A especialidade, pela sua componente analítica de avaliação de exames, propicia isto. Assim, uma vez que o nosso sistema informático o permite, fazemos a teleconsulta com o doente que, normalmente, adere muito bem a essa modalidade, especialmente os mais jovens, claro”, destaca a diretora do serviço.
Dr.ª Cláudia Machado
Para a Dr.ª Cláudia Machado, esta modalidade é um dos aspetos que considera pertinente o serviço continuar a apostar no futuro para permitir “estar mais junto dos que precisam e ter mais celeridade na marcação de primeiras consultas”. Algo também reforçado pela Dr.ª Margarida Almeida que vê na teleconsulta “uma forma de aliviar uma limitação que temos no nosso trabalho: a necessidade de mais espaço físico”. A médica endocrinologista reforça que “até mesmo a nível do controlo glicémico dos doentes, será muito mais fácil o acompanhamento destes doentes. Pelo que acredito que esta é uma vertente que teremos, necessariamente, de desenvolver.
Jornadas de Endocrinologia e Diabetes do CHTS
A 14 de novembro de 2023 o serviço organizou as III Jornadas de Endocrinologia e Diabetes, e esta é também uma atividade não assistencial que promove a articulação entre o hospital e os CSP e que pretende contribuir para o progresso da Endocrinologia regional. No entanto, “apesar de dirigidas essencialmente para esta região, tivemos apresentação de trabalhos científicos de todo o país”, refere a Dr.ª Margarida Almeida.
Esta foi uma iniciativa que iniciou em 2018, mas que esteve interrompida por causa da pandemia por COVID-19. Este ano contou com a participação de 180 inscritos e, pela primeira vez, realizou-se no Dia Mundial da Diabetes e, nesse âmbito, “tivemos também um componente educativo, dirigido à população para aumentar a consciencialização acerca da doença”.
Perspetivar o futuro
Para o futuro do serviço, a Dr.ª Margarida Almeida gostaria de assistir ao seu crescimento. Nas suas palavras, “a população que temos é uma mais-valia, temos uma área tão vasta que permite, seguramente, uma ampliação do serviço e o envolvimento de outras áreas”. A diretora do serviço refere também a abertura que existe por parte da administração para o acolhimento de novos projetos e “o excelente contacto que temos com as outras especialidades – apesar das dimensões considero um hospital familiar, com um bom intercâmbio”.
Embora o objetivo seja sempre de crescimento, a Dr.ª Alexandra Araújo destaca que este “é um serviço que há dois anos tinha uma dimensão mais reduzida e hoje já tem vários especialistas. É uma equipa jovem que está a tentar diferenciar o serviço em várias áreas, a crescer. É desafiador e entusiasmante para os elementos mais novos”.
“Desde a sua constituição, o serviço de Endocrinologia do CHTS passou por diferentes etapas, com várias mudanças na sua constituição. O crescimento do corpo clínico permitiu alargar a atividade assistencial, reduzir a lista de espera e desenvolver novos projetos de diferenciação em várias áreas”, recorda a diretora do serviço. Para a Dr.ª Margarida Almeida este foi “um caminho longo. Mas só tenho consciência de que foi realmente longo quando faço esta retrospetiva”.
CHTS: o serviço pela voz da diretora
Fora do consultório
Prof. Doutor Davide Carvalho: um percurso notável na Endocrinologia associado à práticade uma modalidade desportiva
Prof. Doutor Davide Carvalho
Conhecer a Endocrinologia é também saber mais sobre os profissionais que se dedicam a esta especialidade e, por isso, nesta primeira edição da MeetEndo, fomos conhecer a faceta não clínica do Prof. Doutor Davide Carvalho. A par de um percurso notável na prática e ensino desta especialidade, o atual presidente da European NeuroEndocrine Association, pratica, há mais de 20 anos, voleibol. O médico endocrinologista recebeu-nos no treino da sua equipa que decorre semanalmente na Escola Básica Maria Manuela Sá, em São Mamede de Infesta.
Foi no final da década de 90 que o Prof. Doutor Davide Carvalho integrou os “Turbolentos”, nome da equipa que foi criada para participar nos Jogos Médicos. “Os Jogos Médicos eram uma atividade que se realizava habitualmente na semana anterior à Páscoa, normalmente em Troia, e que englobava múltiplas atividades como futebol, andebol, voleibol, ténis de mesa e até matraquilhos. Este era um evento de grande convívio e confraternização e que despertava bastante interesse - chegou a ter 22 equipas de voleibol inscritas numa das edições”, recorda o médico endocrinologista.
Jogador de basquete na adolescência, no Académico do Porto, foi com a sua mudança para São Mamede de Infesta que o anterior diretor do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) começou a prática desta modalidade: “os meus filhos começaram a jogar voleibol na Académica de São Mamede e, entretanto, soube que havia esta equipa e foi assim que comecei a praticar”. Neste momento, além dos filhos - com a filha a receber o título de campeã nacional de veteranas em 2022 - também a neta do Prof. Doutor Davide Carvalho pratica a modalidade, tendo também sido, recentemente, campeã regional de voleibol.
Constituída por elementos de diferentes categorias profissionais ligadas à saúde, “como médicos de várias especialidades, enfermeiros, delegados de informação médica”, os Turbolentos treinam uma vez por semana, às 22:00, no pavilhão da Escola Básica Maria Manuela Sá, existindo sempre o esforço de “conseguir conciliar a atividade física com a atividade profissional”, refere o especialista.
A vertente da prática de exercício físico é, para o Prof. Doutor Davide Carvalho, algo muito importante e que sempre aconselhou também aos seus doentes: “na área da Endocrinologia, nomeadamente na obesidade ou diabetes, é fundamental. A prática pelos profissionais de saúde ajuda a transmitir ao doente esta importância, é uma experiência vivida, o que acho bastante positivo. Além deste treino semanal tento fazer, pelo menos, 10 mil passos diários”. No caso concreto do voleibol, o endocrinologista considera ser “uma modalidade desportiva muito exigente, mas que pode ser praticada por pessoas mais velhas, mesmo que não tenham grandes competências do ponto de vista técnico”. O atual presidente da European NeuroEndocrine Association (ENEA), cargo assumido em 2024 e com mandato durante os próximos quatro anos, refere que “acabo por transmitir também lá fora esta ideia de que a atividade física é muito importante para o tratamento e para o bem-estar global dos doentes”.
Relativamente ao contributo que a prática desta modalidade tem na sua atividade profissional, o Prof. Doutor Davide Carvalho refere que “a Medicina é uma área muito exigente do ponto de vista profissional, pelo estudo, pela atualização e na prática clínica. Assim, ter momentos de lazer, com outras atividades, ajuda-nos a relaxar e, eventualmente, estarmos mais concentrados na atividade profissional. Acho que isto é o mais importante e é isto que eu e os meus colegas procuramos aqui”.
MeetEndo: “uma newsletter que nos dá outra visão”
Questionado sobre a pertinência que a MeetEndo tem para a Endocrinologia, o Prof. Davide Carvalho refere que esta newsletter vai, “seguramente, contribuir para um melhor conhecimento de todos os serviços do país, o que é uma boa ideia uma vez que acabamos por estar, muitas vezes, fechados nos nossos serviços”.
“A reportagem nos serviços permite-nos ter uma perspetiva de como é que estão organizados, conhecer as pessoas e ver, também, um pouco o outro lado para além da atividade científica - que nós avaliamos pelos artigos publicados e pelas apresentações. Acho que é importante termos, também, essa outra visão”, conclui o médico endocrinologista.
Prof. Doutor Davide Carvalho: a faceta não clínica
A Menarini esteve aqui
“The new and the old in diabetes”
A “Fondazione Internazionale Menarini” foi fundada na primavera de 1976 para promover a investigação e o conhecimento nas áreas da Biologia, Farmacologia e Medicina, mas também nas áreas da Economia e das Ciências Humanas.
Um dos principais instrumentos que a Fundação utiliza para atingir os seus objetivos é a organização de congressos internacionais em diversas áreas terapêuticas.
Desde 1976, a Fundação organizou mais de 600 conferências internacionais abordando temas médicos e biológicos particularmente inovadores e de interesse específico para o mundo médico, com amplas implicações científicas e repercussões de natureza prática.
Entre os dias 30 de novembro e 1 de dezembro decorreu, em Barcelona, um evento totalmente dedicado à diabetes, com o tema “The new and the old in diabetes”, que contou com a participação de uma comitiva de médicos portugueses.
O evento contou com uma comissão científica de relevo, liderada pelo Prof. Stefano Del Prato de Sant’Anna School of Advanced Studies em Pisa.
Produção
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2620-535 Ramada, Portugal
geral@raiox.pt
www.raiox.pt
Equipa
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Andreia Pinto
Cátia Jorge
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Tiago Gonçalves
DESIGN:
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